quatro anos
neste 17 de abril de 2021, o ruína acesa completa quatro anos de criação. a montagem acima utiliza fotos dos sete espetáculos cujas críticas inauguraram a plataforma.
Minha primeira crítica foi escrita como um trabalho da graduação. Há uma década, para a disciplina de Estética e História da Arte, ministrada então por Vinicius Torres Machado, refleti em torno de Pinokio, do Club Noir. Recentemente vasculhei meus arquivos, físicos e virtuais, em busca deste texto. Não o encontrei.
Ainda durante meu percurso no bacharelado do Célia Helena Centro de Artes e Educação, lembro-me de ter produzido mais duas críticas: uma para a disciplina de História do Teatro Brasileiro, onde tinha aulas com Chico Carvalho, sobre Ifigênia, da Companhia Elevador de Teatro Panorâmico; outra para a cadeira de Ética, à época sob responsabilidade de Antonio Duran, sobre o Nossa Cidade de Antunes Filho.
Depois de formado, passei algum tempo sem escrever. Talvez um ou outro comentário publicado nas redes sociais, ou enviado diretamente para amigos que estavam em cartaz. Em 2015, tive a oportunidade de fazer um curso de crítica teatral com Kil Abreu na SP Escola de Teatro. Sempre que falo sobre isso gosto de lembrar do fato de que durante todo o curso, não produzi sequer uma linha. Demorei para efetivamente começar a escrever.
Foi no ano de 2017 que passei a publicar alguns textos mais elaborados, ainda em meu próprio perfil do Facebook. Então, em abril daquele ano, crio o ruína acesa como possibilidade de organização e alcance maior desta produção crítica. Hoje, dia 17 de abril de 2021, portanto, esta plataforma completa quatro anos. Inicialmente no Facebook, depois hospedado no Medium e, desde maio do ano passado, neste site.
Desde janeiro do ano passado, meu trabalho voluntário e independente é viabilizado, em parte, pela colaboração contínua de pouco mais de uma dúzia de apoiadores. A campanha manter a ruína acesa permite que pessoas contribuam mensalmente (via boleto ou cartão) com valores a partir de R$ 1 a fim de cobrir os custos e efetivamente remunerar este ofício. Foi esta movimentação que fez a diferença em um difícil 2020 – e permitiu que o ruína acesa ganhasse seu site próprio.
Nele está contida toda a minha produção crítica. Tomo a licença de, neste momento tão difícil, celebrá-la. Recentemente, durante o ciclo de debates Crítica Isolada, idealizado em parceria com o Tudo, Menos Uma Crítica e realizado no Sesc Pinheiros (aliás, os registros dos encontros já estão disponíveis no YouTube), muitas bolas foram levantadas em torno das possibilidades, responsabilidades e desejos do fazer crítico. Penso sobre elas. Sobre escolher estar neste lugar, lançar-se ao risco de tatear junto os caminhos que se constroem com as obras e suas inquietações.
No arquivo do ruína acesa, constam, já contando com este, 179 textos. Dentre eles, 12 sobre cinema, 3 sobre séries e até mesmo um sobre música. Sobre teatro, são 161. Além dos publicados no ruína, contabilizo também minhas colaborações em outros veículos e plataformas. Foram 31 críticas escritas para o caderno Ilustrada, da Folha de S. Paulo (2018/19), 10 para o Especial Cidade em Cena (Sesc São José dos Campos, 2018), 6 para o MIRADA (Sesc Santos, 2018) e uma carta publicada no Horizonte da Cena.
O ruína acesa completa e celebra quatro anos, portanto, com mais de duzentos textos escritos e publicados. É uma média de um texto por semana. A regularidade da produção, no entanto, tem um movimento próprio: existem meses sem sequer uma publicação e dias com dois novos textos. Há um dado concreto nisso – as exigências da vida prática, que impossibilitam um debruçar-se mais constante – e também, sem dúvidas, muito de minha disponibilidade interna. Tem sido especialmente difícil manter a dedicação que gostaria durante a pandemia.
Para terminar este texto-celebração, queria passar brevemente por alguns marcos interessantes. Conforme disse acima, criei a página no Facebook para organizar uma produção que já existia. Isso faz com que haja sete textos que podem ser considerados inaugurais deste projeto. Listo-os aqui quase como uma curiosidade – eles foram escritos ao longo de muitos meses anteriores ao nascimento do ruína acesa, talvez fazendo parte de sua gestação.
São eles: Chiquita Bacana, aqui perto e tão longe, sobre Chiquita Bacana no reino das bananas, espetáculo infantil escrito por Reinaldo Maia (que faleceu em um 17 de abril, de 2009) e encenado pelo Folias; nós, sublimes, sobre Pessoas Sublimes, do Satyros; sim, vamos falar de violetas, sobre SENTA {sobre ser um ser humano}, com direção e dramaturgia de Nelson Baskerville; nossos fracassos e o ridículo do mundo ou nossos ridículos e o fracasso do mundo, sobre Os Maus, com direção e dramaturgia de Fernando Nitsch; pombo atropelado na estrada; fazer das tripas (do outro) coração, sobre Os Famintos, da Fricção Coletiva; fracasso, nossa inevitável catarse, sobre Teseu – uma rapsódia de momentos que não serão lembrados, da Cia. Babuínos; e à uma fagulha de alguma coisa (ou qualquer lugar menos agora), sobre 11 SELVAGENS, com direção e dramaturgia de Pedro Granato.
Considerei comentar aqui também os textos mais acessados (o que não quer necessariamente dizer lidos) do site. Mas enquanto olhava para os dados, pensei que isso pouco importa. Ao mesmo tempo que é tão importante para um texto ser lido como é para uma peça ser vista, mantenho uma esperança que talvez pareça ingênua: se o que escrevo inquieta ou acalma uma única pessoa que seja, se o que escrevo é interessante ou pertinente para um alguém, faz sentido continuar.