destaque, performance, teatro

“AGAMENON 12H”: crítica dentro

escrita crítica de amilton de azevedo realizada durante as doze horas de apresentação de “AGAMENON 12H”, concepção e direção de Carlos Canhameiro.

Crítica Dentro é um formato originalmente proposto por Ruy Filho na Antro Positivo. Nas palavras do dramaturgo, diretor, pesquisador e crítico de teatro, “Crítica Dentro é um experimento de escrita crítica que ocorre simultâneo e dentro de um espetáculo, incluindo na abordagem reflexiva a percepção do espectador em tempo real e descrições de cenas, quando necessárias, como impulso para aprofundar as questões próprias ao teatro e ao contemporâneo”. amilton de azevedo esteve na Praça do Sesc Avenida Paulista entre as 10 e as 22 horas da quarta-feira, dez de agosto de 2022 – estreia de AGAMENON 12H, com concepção e direção de Carlos Canhameiro. O resultado do experimento é o texto publicado abaixo, sem nenhuma revisão e escrito somente durante as doze horas de apresentação (a sequência das horas refere-se ao dia assistido; ela será constantemente alterada).



Primeira hora – Amanda Lyra

Quando o Sesc abre, Amanda já está em cena e a sirene está tocando. Um epílogo inicia Agamenon 12 horas. Sobre gotas de orvalho, sobre gente que não trabalhou duro. Ela fuma um cigarro e observa. Tem bastante gente aqui, já. Não imaginava isso.

Odeio supermercado. Ela fala abafada pela trilha, mesmo com um microfone diante dela. O cenário é um estande de qualquer galeria popular com mil traquitanas inúteis e coloridas.

Tela azul. Surpreender a família fazendo a compra do mês. O capitalismo é mesmo uma tragédia. Tela rosa. Me distraio corrigindo opções de formatação do word. Amanda está descrevendo a organização das compras e o caos da desorganização e a surpresa disso ao chegar em casa. No Pen No gain. Que merda quer dizer esse neon?

Perplexa diante das compras. Nessa primeira hora penso que muito de minha atenção estará no texto; a ver nas seguintes. Amanda quase não se move, modula sua voz e expressividade enquanto o cigarro queima em sua mão.

Lista de compras e enganos e desperdícios. O consumo é um pop show. As bobagens que realmente precisamos. É doido pensar sobre o que realmente precisamos.

Que humor barato. E a descrição da violência nessa chave sarcástica e alguns risos do público que logo silencia. Silencia? É uma mulher falando o texto; como será um homem falando de bater em sua companheira? A trilha sonora gera um estranhamento ainda maior para a encenação A TV segue mudando suas cores tingindo também o rosto de Amanda.

Da bolacha até a surra e então uma bateria entra na música. E pausas para uma reflexão meio tortuosa. E do mercado ao hospital e a todos os lugares que exijam fichas e do consumo passamos à burocracia. Tudo permeado por uma violência constante, naturalizada no contexto do discurso e da personagem que se desenha.

A trilha faz parte do jogo, surpreende a atriz – ou ao menos assim se parece em um primeiro instante. É um dispositivo? Ou só um jogo com a expectativa dos espectadores? Ela canta parabéns a você em alguma língua ininteligível. Acende outro cigarro. Volta o andamento simultaneamente arrastado e magnético da narrativa. Tédio, consumo, violência: é sobre isso?

Crescer pra poder usar o moletom. Entupir a criança de besteiras compradas porque não se joga nada fora. Essas são as métricas, esse é o intuito da vida. Empanturrar o filho como a um pato prestes a ter suas partes tornadas foie gras.

Amanda constrói uma personagem que beira o caricato enquanto é absolutamente convincente. Essa mulher existe. Agora ela se move. O figurino parece o de algum funcionário de qualquer cadeia de lojas. Verde, azul, laranja.

Volta à listagem das compras enquanto conta dinheiro. A possibilidade de comprar tanto denota uma boa condição financeira, ao ouvir este texto no Brasil de 2022.

Um ventilador é o carro em movimento. Ouço os ônibus passando na avenida Paulista. A porta aberta, as pessoas que chegam depois, Agamenon está sempre imóvel e em movimento.

Agora é a natureza. Grilos, estrelas, vinhedos, as Antípodas. Sentar entre as videiras e um estranho ímpeto de liberdade. “Noite linda, caralho!”. Êxtase. Dura pouco. Sempre o mesmo. Impossível sair da roda. Se perder por aí é sempre um consumo? “Poucos lugares merecem ser chamados de por aí”, enquanto conta dinheiro novamente.

É o fim do mistério no mundo. Tudo normal, tudo mais do mesmo, tudo costume, tudo rotina. Tudo vazio. O fracasso do novo. Do estranhar a vida. Do conhecer o que realmente não se conhece, não se sabe o que esperar.

Pequenos e grandes absurdos. A trilha agora é de mistério, a luz rosada parece deslocar a ação para outro lugar que não aqui. Agora evoca-se Tróia. Guerra. Porrada. Especulação. Um gole de suco de caixinha, uma batata frita do McDonalds.

Mandar postais de lugares por aí com nomes de celebridades trocadas. Bill Clinton, Agamenon. Monica Lewisnki, Cassandra. Hillary Clinton, Clitemnestra. Saddam, Bin Laden, Agamenon. Nomes de poderes (e antípodas) do Norte Global. E então brasileiros, cubanos, palestinos: troianos. Ouço uma tosse no fundo. As portas abertas, sempre. Sombras se movendo por trás de mim. Troianos…

Meia hora de texto e a primeira referência direta ao cenário: a loja. É dela, Agamenon. Da família. E a meta de vida que oscila entre a construção de um melhor empreendimento e o “sair por aí”. E a ignorância e a pequenez diante do que habita nossa vida cotidiana. “Encontrei tudo pronto”. Porra. É isso: não sabemos verdadeiramente de nada, não nos envolvemos diretamente com quase nada daquilo que nos faz viver o dia a dia.

Elegia à insignificância. Elegia será o melhor termo? Do tédio do hiperconsumo a tais questionamentos existenciais. Sempre organizando-se numa listagem, seja de compras, invenções, receitas, construções. Repetição e variação. Cada vez que se lista algo é por intenções bem diferentes. Mas uma insistência na impossibilidade de agir de outro modo. E retorna-se ao cotidiano, ao vazio, ao KFC, a mais lugares conhecidos só pra sair por aí.

Mais um cigarro. “Eu penso no trágico. No conceito do trágico”. E em asinhas de frango frito. Um esquema perfeito do trágico – e um sertanejo entra. Parece mesmo um dispositivo da encenação, sim. Karaokê. “Estrada da vida”, de Milionário e José Rico.

“Na esperança de ser campeão / alcançando o primeiro lugar”

Valores competitivos, vinculando o sucesso ao capital adquirido ao longo da vida, estão impregnados em nós e nossa cultura. O merecimento. Não é um horror, isso?

Volta-se da interrupção como que nada.

TRAGÉDIA em letras garrafais escrito com ketchup sobre a mesa. Da nossa tragédia. Há algo de grego, aqui? O canto do bode é uma asinha de frango frito que não é asinha nem frango? É o que nos resta?

Sete atos, G7. Mais uma lista, agora sem rodeios na crítica direta do discurso da dramaturgia. A tragédia do mundo industrializado. A esperança buscada no desperdício no lixo. Riqueza versus esperança. Uma dualidade esquisita. Mas não contraditória.

Onde essa ação acontece? Aqui? Qual é a realidade e a consciência desta pessoa, desta família? Há um trânsito entre alienação e crítica na trajetória da personagem e dos que a circundam. A situação descrita é realista e reconhecível, mas a narrativa salta e salta na subversão de expectativas. Amanda está contando dinheiro de novo.

Contra todo acúmulo; inclusive o de experiências. E um show de luzes. “Dance with me”. Um bonecão de posto. Foda-se. Falhou a máquina. Voltou. O vento mal consegue inflá-lo na totalidade. Ele insiste em tombar. Que belo fracasso. Cheio de vento. Respirar não é o bastante. Amanda bate no boneco. Ele tomba. E tomba. E ergue e tomba. Ela para de mover-se como ele. Foda-se. Outro cigarro.

Uma tia da limpeza do KFC de beira de estrada então ganha o centro da cena. Sobre a epidemia da moderação. E gritar quando metem o dedo no seu cu. Tem que sair da figura hiperconsumista e ir pra figura que efetivamente representaria a classe trabalhadora para gritar sobre toda a merda. Volta nossa narradora-protagonista. Vai embora com a família do KFC e sai por aí. Joga fora os restos de sua materialidade. Desperdício. Mais um cigarro, mais um gole no suquinho de caixa. Ainda há muito tempo para Amanda, cigarro em punho, contemplar ressabiada o público e talvez a avenida ao fundo. A sirene soa; marca-se o final da primeira hora. Mais onze virão.

Segunda hora – Mariana Senne

Enquanto Mariana entra, percebo o cenário novamente. No pen no gain. Deve ser um erro de inglês proposital, considerando a quantidade de produtos toscos – bonecos malfeitos do Superman, máscaras feias do homem de ferro e do Ben 10. Uma tosqueira permeia.

Ela é vendedora. Analisa as prateleiras. Verifica se está tudo certo, ou algo assim. Senta-se, come chicletes e lê o epílogo do orvalho. Seu registro de interpretação já propõe uma construção radicalmente diferente da anterior. Mais personagem que narradora, pelo menos neste primeiro momento. Pausas de quem está lendo pela primeira vez, com certa dificuldade. E então, seus comentários.

Sai o sarcasmo, entra certa cumplicidade? Impressionante ver, na sequência, o quanto as escolhas da entonação dada ao texto alteram a relação entre atriz e público, entre discurso e recepção. O humor ainda está ali, é da dramaturgia, mas é totalmente outro, mais sutil.

A lista de compras surge mesmo como equívoco, sem a sacanagem escutada antes. Há até um desespero na percepção do absurdo. Ingenuidade. Outras formas de encarar os problemas da sociedade contemporânea. E um celular que captura a personagem. Suspende-se a narrativa.

Mesmo na violência há um compadecimento com essa figura. Mentira. Por alguns momentos, talvez, mas logo se dissipa. A brutalidade do texto vem à tona nesta construção que organicamente compartilha essa narrativa com uma violenta normalidade. Do pacote de bolacha à surra surge novamente o desespero de suas próprias atitudes.

Outro dispositivo: “sing a song”. É a mesma música. Agora a capella. Mariana canta com excessiva dramaticidade, destoando do que apresentara até então – mas tal qual um homem bêbado em final de noite. Ela reage a uma fala de fora do espaço. Portas abertas. Pessoas conversam bem diante da entrada. Curioso isso.

Pensei que a cabeça baixa da atriz era um momento de reflexão ao perceber que havia exagerado na surra. Me mexo um pouco e noto que não: ela está novamente no celular.

Enquanto ela conta do moletom como quem compartilha um acontecimento íntimo, luzes espetaculares pintam a cena e uma trilha quase jazzística a acompanha. A crítica aqui está no desconforto da interpretação; como que uma vergonha de si própria. Mas que é também raiva, ódio, ímpetos violentos profundos o tempo todo.

Luzes. Trilha. O dispositivo se repete, mas com variações. Uma ginástica laboral. O que são esses ex machina? Ela é convocada por essas mudanças de luz e trilha e acompanha uma videoaula no celular. Algumas pessoas vão embora. Ainda há bastante gente no público. A avenida segue barulhenta.

O retorno marca uma mudança de estado gerado pela movimentação corporal. Uma menina dorme apoiada no ombro de um homem no público enquanto ouvimos sobre vinhedos e estrelas. Um deslumbre na fala ainda ofegante.

A natureza como escape, num fugere urbem que não sustenta sua própria perspectiva idílica. Se perder é sempre sob controle, é sempre o mesmo. Não há espaço para o mistério na massacrante vida cotidiana, especialmente nas grandes cidades. Os mesmos lugares, as mesmas pessoas.

Agora a personagem-narradora parece mais um cidadão comum, seja lá o que isso signifique nesses tempos. Compartilha o que está no grupo do zap, reproduz discursos sem saber muito bem de onde eles vêm e o que querem dizer, se perde na construção de sua própria história, se envergonha e se orgulha.

Rede Globo, palácio dos Átridas. A lista agora é bem maior de nomes e nomes, e com muito menos compreensão da própria propositora.

Vai caber na boca desta construção o momento da tragédia?

Uma corrida entre dois cachorrinhos de olhos verdes que simplesmente não correm pra frente. Porra. Os jogos com a materialidade são bizarramente conectados ao discurso da obra. O recorrente fracasso parece nevrálgico. E o público aplaude a vitória do cachorrinho amarelo. “É só isso que a gente quer, porra, a gente quer vencer”.

Gostar do animal do homem. Um recebido do zap. Não lembro de ouvir na hora anterior este trecho. Agora sim, reconheço. “ACUMULAR experiências não protege”.

Assistir doze horas seguidas do mesmo texto interpretadas de diferentes formas é uma tentativa vã de buscar proteger-me da singularidade de cada evento operacionalizado por cada intérprete?

A insignificância da percepção de não colaborar, não inventar nada, é aqui angústia compartilhada, quase confusa. Da impossibilidade de vir antes. De ser antes. De construir algo – de compreender o que se pode ainda construir.

Gargalho quando ela chama um boneco do Superman de Batman.

“A gente fica no aguardo do whats”. É isso. Da consciência da hora anterior para essa alienação estranha que também entra em crises. E o loop com o início, agora em vertigem, preenchendo os minutos finais da segunda hora, lançando-se na pilha de bonecos brinquedos tralhas.

Terceira hora – Chico Lima

Chico entra com materiais e materiais de limpeza. Muito do público sai, o espaço se reorganiza. Penso em apoiar minhas costas, mas tenho preguiça de me mover. Ele se paramenta com máscara, luvas, prepara algo químico em um balde.

Seu prólogo no microfone é coreografado e seu corpo conta algo que talvez outro texto. Sublinha certas palavras no gesto, em outros momentos parece tangenciar os movimentos de LIBRAS. Mas não é. Seu pé também desenha o espaço.

A ação toda marcada já sugere outra relação com a dramaturgia. Nas doze horas será assim, né? Agora a narração é enunciada enquanto ele varre o espaço. Quase como um monólogo interno durante uma atividade cotidiana. Chico vai quase jogando o texto fora, como se a narrativa fosse o mais comum do mundo.

Se diverte com o que diz. Bastante. Conversa com ele mesmo na listagem das compras. Varre, e varre, e varre. Tira a máscara, segue varrendo. Até que termina. Sobe a trilha, ele fala mais um pouco. É hora do parabéns pra você. Os dispositivos seguem recorrentes e com variações. Derrama, Senhor, é uma adição. Quais as intenções e os efeitos dessa utilização ao longo das doze encenações? Além do momento de corte abrupto, como cada um torna-se permanência nos momentos seguintes? Há reverberações na ação ou apenas na recepção?

Chico faz vozes exageradas para dar vida aos outros personagens. Como se todos no seu entorno sejam essas figuras caricatas, bestas, menos ele. É outro lugar de consciência para o narrador-protagonista.

Mais gente saindo do que entrando; o espaço esvazia-se mas ainda há um bom número de pessoas.

Lá vem o celular de novo, capturando a atenção e desviando totalmente o ritmo da narrativa. Uma gota é escutada na trilha. Agora ouvimos os stories sendo “vistos” na velocidade idiota das redes e do algoritmo que mistura tudo e tragédia vem logo depois de foto de gatinho e não dá tempo de pensar em porra nenhuma.

Um modulador de voz no microfone dá a ele uma voz talvez entendida como feminina ao reclamar dos hospitais e fichas e burocracias. O tom é levemente choroso e me lembra de pastoras neopentecostais da televisão na organização e ritmo da fala. Um riso dele desfaz essa minha percepção.

Ele volta à rotina de faxina. Felizes como “retardado com um lápis” – só Amanda usou a expressão “pinto no lixo”. É um detalhe.

Trechos do texto seguem sendo engraçados mesmo depois da terceira repetição. Nada como a variação e um movimento consciente de se manter aberto às proposições de linguagem de cada um dos atores e atrizes.

O gesto cotidiano da limpeza é procedimento de normalização do discurso da violência da dramaturgia. São muitas as estratégias possíveis para fazer a crítica vir à tona, nem todos necessariamente diretos. Agora ele grita com o ventilador como fosse o filho enquanto o limpa também.

A trilha sobe novamente. Espero por alguma interrupção, mas ela não vem. Só uma atmosfera mais tensa é proposta. Só na terceira vez entendo que na rádio toca Bach. Achei até agora que era uma interjeição.

Será que a cada hora terei menos o que escrever sobre o que vejo?

Chico roda sobre uma banqueta enquanto limpa o que está no alto com um espanador e fala de estrelas. Rio alto. O entusiasmo com a natureza é tão descolado do todo mais que se apresenta da figura que me deixa pensando em algo entre o patético e o belo.

E volta o ciclo de stories. Crianças cantando que o papai as ensinou a juntar moedinhas. Que horror. Penso nas bebês influenciadoras. Me assombra isso.

Volta a voz modulada, entra uma luz vermelha. Agora a voz me lembra aquela de programas policiais, onde não se pode revelar a identidade de quem está falando.

Muitas das escolhas parecem mesmo ser por efeito estético, por pesquisa de linguagem. Não consigo localizar algumas das intenções por trás, mas isso importa? Talvez seja mesmo a brincadeira de experimentar as tantas formas de colocar um mesmo texto em cena, mantendo seu discurso mas trazendo-o ao espaço de maneiras diversas; mais ou menos formalistas, narrativas, orgânicas, herméticas, enfim…

Apesar do projeto se inserir em muitas das premissas (conceitos, postulados, propostas ou o que valha) da encenação contemporânea, no fundo é profundamente um trabalho sobre um texto.

E lá vem o karaokê, interrompendo a ideia dos postais de nomes trocados. Chico canta quase a capela, com um leve acompanhamento quase descompassado de percussão, volume baixo. Está no centro do palco, banhado pelas luzes moventes. Um espetáculo simplório.

É só na recepção que a canção reverbera; Chico volta na mesma toada, reforçando o deslocamento daquela atuação.

Quem é José Maria Asnar? Preciso procurar no google.

O jogo é permeado por vazios. Não há pressa na organização dos materiais para o próximo movimento. Cá estamos nós, esperando, ansiosos ou algo assim, e ele ali, tranquilo. Pega o celular e manda mais uma mensagem, calculando o número de ativos e passivos em uma orgia. E volta pros stories. Ouço um trecho de receita, uma fala em inglês, uma propaganda de hemorroidas. Um acúmulo de sem-sentidos. É sobre isso?

Quantos McLanche Feliz serão utilizados nas apresentações?

Fala sobre o desperdício da vida enquanto come um cheeseburger e a trilha sobe, tensa, densa. A tragédia com boca cheia de um fast-food de merda e um áudio pro terapeuta. Chico parece criar um limiar performativo como disparador de breves interrupções, ou algo assim.

Desmonta a figura enquanto pensa sobre a insignificância de agir no mundo, criar no mundo. Mas segue comendo cheeseburger. “Sou um animal bosta, simples”. Volta inteiramente ao personagem enquanto enche a boca com o lanche. Volta à limpeza.

Chega ao trágico, ao conceito do trágico. Fala do esquema enquanto limpa e conversa com bonecos. O moleque virou uma surpresa de McLanche Feliz? É isso… que síntese bizarra e eficaz.

A música é trágica (ainda que eu não saberia explicar o que quero dizer com isso). Enquanto a garçonete reclama dele brincar com comida, ele brinca com bonecos.

A ideia utópica de esperança diante de sete atos da tragédia da industrialização, do capitalismo. Uma narrativa que parece mesmo ter que ser contada lembrando dos lixos às margens das sete asinhas de frango ao centro. Riqueza e esperança, penso de novo na dualidade antes mesmo do texto chegar a tal ponto. No nosso país osso virou comida e não mais resto. É assustador.

“Dance with me” interrompe meu raciocínio. Chico dança pelo espaço. Sua partitura nada cotidana destoa da figura que nos últimos cinquenta minutos basicamente só varreu o chão e espanou objetos. É o corpo coreografado do prólogo, do orvalho e daqueles que não trabalharam o suficiente.

Agora sua retomada é afetada pelo dispositivo. Um cansaço transborda a narrativa sobre a esperança. Só pode haver esperança onde há lixo? É simultaneamente algo de otimista e de violento pensar assim. Talvez nas próximas nove horas eu entenda efetivamente essa relação entre as asinhas de frango e as sobras de frango. É a terceira vez que me perco neste momento da dramaturgia.

Garçonete diz que só deveria ter pornografia na internet. Não é lá o espaço pra conhecimento e informação. Elas estariam nas Antípodas (e eu não tenho essa referência). É errado pensar que talvez fosse melhor se não tivéssemos essa avalanche de dados disponíveis a todos a todo o momento?

Para falar do homem animal e do acúmulo da experiência, volta a modulação de voz. E depois, com os bonecos, a moça da limpeza e a moderação. E volta aos gestos de limpeza enquanto desenvolve sua reflexão final

Agora vou até o banheiro entre o final e o início da próxima hora.

Quarta hora – Danielli Mendes

Epílogo como “Bom dia grupo”. O zap parece intrinsecamente ligado às lógicas construídas na cena – não por acaso; visto que a dinâmica dos discursos que circulam em tal rede é comumente associada a práticas violentas, desde a disseminação de informações falsas, passando por imagens explícitas e incitação ao ódio.

A atriz veste um óculos de realidade virtual. Não temos acesso ao que ela está vendo, mas move-se como em uma grande aventura de descoberta, deslumbrada com o que vê. Penso o quão maluco seria uma hora apenas acompanhando isso. Enquanto penso, ela começa o texto.

É uma relação meio de transe com a vivência do virtual, como se a experiência ali conduzisse as suas entonações do texto. Será representação? Onde ela está passeando, o que está vendo? Seu distanciamento da situação narrada parece produzir também um distanciamento na relação do público, do entendimento do que se passa – quem entrou de curioso no espaço pouco tempo ficou. Para quem já estava aqui, mais uma maneira de evitar o acúmulo de experiência e permitir que uma nova se estabeleça.

Me distrai um pouco, também. Olhei minhas redes por um instante. Danielli segue em sua aventura entre onde está imersa e o que nos conta. A proposta é absurda e o texto vai saindo de sua experiência e não sei o quanto chega para quem o escuta pela primeira vez; também não sei o quanto isso efetivamente importa dentro de uma proposta que não é a de uma hora de peça, mas de doze, de entradas, saídas, idas e vindas e retornos.

Será que mesmo com tantas variações há o risco de esvaziamento dos sentidos da obra? Aliás, talvez seja este mesmo o processo: esvaziar para lançar luz na prática ao discurso da dramaturgia – grosso modo, tédio, hiperconsumo e o sem-sentido da sociedade contemporânea, especialmente às margens dos centros do capitalismo global.

O sofrimento de Danielli com o moletom mistura-se a um pavor que se sugere vir da realidade virtual. Essa camada adicionada nesta hora de encenação é uma progressão incessante de ruídos na leitura de quem é essa narradora-personagem.

Percebo que talvez o óculos nem esteja ligado e seja tudo representação. A partir dessa hipótese a recepção da proposta altera-se em mim. Uma espécie de estrobo de led começa a piscar sobre os espaços do público. Somos nós essa realidade virtual? Nada indicou isso diretamente, mas a iluminação me fez pensar.

E a natureza aqui é mais pavor, é corrida, é corpo espasmando. A lida com a imersão na realidade virtual parece trabalhar na inversão de muitas das chaves de entendimento do texto anteriormente vistas. Em alguns momentos, harmoniza-se ação e fala; mas na maior parte do tempo não. Adiciona-se essa camada extra de ficção.

Feliz aniversário do Príncipe Namayer. Rio alto no espaço agora quase vazio. Os dispositivos seguem como única constante. Agora, ele embaralhará os sentidos de quem vê pela primeira vez mais do que nunca. Ao cantar, suspende-se a imersão na realidade virtual.

A trilha encobre parte da fala da atriz. Essa quarta hora é difícil – há pouco público, muitas entradas e saídas, falas próximas à entrada e calhou de ser uma encenação de certo modo hermética, especialmente para quem chega agora.

Agora somos o quintal. E o que temos feito para melhorar? Danielli ao mesmo tempo fala consigo, em sua imersão, e com o público, mas sem efetivamente olhar para nós.

A representação da imersão virtual se desfaz no mergulho em si – e agora a crise da não-criação e da inação no mundo se organiza enquanto oração, povoada de améns ora acompanhados ora ignorados pelo público presente.

Religiosidade e virtualidade caminham então lado a lado na ação de Danielli. Ambas surgem, paradoxalmente, como potência e impossibilidade. A trilha novamente é mais alta que sua voz. Distância. E mais um McLanche Feliz.

Ela está e não está aqui. Talvez por isso o volume baixo, a trilha alta, o tatear do espaço. Onde existe essa personagem-narradora? As luzes que se movem no fundo da sala são do movimento das ruas. O dentro e o fora estão muito longe nesse momento, mas constantemente se contaminam. Há isolamento possível?

Um som chama. Ela dança. Agora ela está aqui. Ao longo da trajetória desta hora, ela vai da maior ausência possível, na representação da imersão virtual, até estar inevitavelmente aqui, mesmo que seguindo de óculos. Termino de escrever no momento em que Danielli volta a ter um rompante da ficção dentro da ficção dentro da ficção.

A dualidade entre riqueza e esperança não é a que eu havia entendido. A esperança não está nos sete atos da tragédia. Mas não é que ela seja o lixo. É só onde ela pode se encontrar. Enquanto projeto. Não há projeto de esperança onde não se enseja mudanças. É isso? Onde não se revira nos próprios restos, dejetos, lixos. Não sei.

“Sing a song”, quebra. “As andorinhas” – por mais que se possa esperar a presença dos mesmos dispositivos, não se pode nunca ter certeza do que acontecerá. “Uma andorinha sozinha não faz verão” logo depois de “não há esperança possível”.

Antípoda não é um lugar fixo como antes imaginei, mas o ponto exatamente oposto na esfera terrestre. É o lugar mais distante possível ao qual se está nesse momento. O lugar menos aqui. Entendi certo?

Para que se confunda progresso pessoal com justiça global. É a primeira vez que registro essa frase do texto.

Quem é o garoto de Genova? Esse gesto de transgressão subjugado; uma máquina sobre outra máquina. Humanidade, desumanização, violência. Não é uma síntese da dramaturgia, mas é um final que nos lança em múltiplas direções em torno do discurso da obra.

“No rio que tem piranha, jacaré nada de costas”…

Quinta hora – Eduardo Bordinhon

Um epílogo TRÁGICO. Talvez em ketchup, a ver o que se segue. Eduardo traz o gestual e a imposição vocal geralmente visto em encenações contemporâneas de tragédias clássicas. Mas com um quê de entonação também vista em debates e discursos políticos.

Então um flipchart. Uma aula. Seu apontador é um pau de selfie. Agamenon tem nesta hora sua história contada em terceira pessoa. Por um professor de cursinho ou algo assim. O entendimento em torno do que é didático nos tempos que correm é mesmo assustador, e a condução de Eduardo é um realce constante desse horror. As piadas toscas, a ideia conteudista, o desprezo ao espaço real de reflexão…

Aqui o dispositivo do parabéns para você parece até uma atuação natural desta figura pseudo-professoral.

Contar Agamenon como uma Jornada do Herói. Porra. É esse o herói do contemporâneo, é ir ao supermercado e os acontecimentos que se sucedem como falha trágica. O cotidiano é a tragédia indesviável.

E então a narração conduzida por essa figura ainda mais abjeta que o protagonista-narrador é suspensa para o McLanche Feliz. Um silencioso intervalo para o almoço. Não tinha me dado conta do ridículo tamanho da porção de batatas fritas.

Se por um lado a escolha do modo de contar já parecia mesmo um tanto esgarçada, por outro essa interrupção é em si mais um procedimento estético das doze horas de Agamenon. Com doze vezes o mesmo texto sendo dito, silêncios singulares podem significar muita coisa. E então o karaokê chega; as andorinhas voltaram.

Volta também o professor de humor insistentemente duvidoso.

Ouvir os grilos é também ouvir a própria respiração, da família feliz e sangrando. Respiram mal, mesmo neste momento de contato com a natureza. Não há deus ex machina que salve esse herói. As estrelas só se veem abertamente nas antípodas. No oposto. Longe, muito longe desta realidade.

“Pode largar o lápis” e o momento quase confessional do depoimento em primeira pessoa, onde alguma poeira de vulnerabilidade, de reflexão verdadeira, pode vir à tona na fala dessa figura.

A primeira falha trágica é ouvir a opinião de uma criança. A segunda é pensar; descambar para o drama. Uma vem como piada. Já o pensar surge em antítese à ação. Toda a ação de Agamenon é violenta; e em seu ato de reflexão ele acaba por entrar em uma crise que é em absoluto inação.

Uma ação contínua de dependência que não o leva a uma noção coletivizante, mas ao próprio vazio de suas não-descobertas, de sua impossibilidade de invenções. O desejo de autossuficiência só pode se frustrar diante da sociedade tal qual organizada nos dias de hoje – resulta em um falso discurso meritocrático, sobre merecimento, agressivo e com um total desprezo ao outro e a todas as coisas do mundo.

O que não o impede de rumar diretamente a um Kentucky Fried Chicken de beira de estrada e seguir consumindo tudo que é merda que se apresenta diante de si. É o supermercado tudo de novo. Mas agora em chave trágica. Escrita em ketchup. Dar forma a um conteúdo, materializar em ação sua hybris, aqui discurso geopolítico, a desmedida de sua própria TRAGÉDIA do mundo industrializado.

“Dance with me”. Queda e espasmo. Força excessiva.

O projeto de demonstração da “ideia utópica do conceito de esperança” começa com a expulsão de todas as outras pessoas do restaurante com tiros pro alto do segurança. Explicar a esperança com violência.

A riqueza não move um palmo na direção da esperança. De fomentar a esperança. Isso exigiria mudanças. É a quinta hora e só agora eu começo a talvez entender melhor a metáfora das asinhas de frango frito.

Eduardo é interrompido pelo sinal. Continuamos na próxima aula. A miséria se espalha de diferentes formas ao redor do globo.

Sexta hora – Janaina Leite

“Agamenon +18”, um grupo de whatsapp. Enquete com fotos de cachorros e frases engraçadas; uma miríade de figurinhas. O epílogo é a voz de uma criança. No processo de conectar seu celular a seu fone, Janaina revela um procedimento: o texto será narrado por ela mesma em seu ouvido – ou assim parece. Ela materializa as tantas sacolas de compras do supermercado. O grupo de whatsapp fica silencioso enquanto ela trabalha; parece algo para momentos de intervalo.

A interpretação de Janaina, imóvel com as sacolas, em uma distância do microfone e um posicionamento que não exatamente amplifica sua voz, modula vocalmente a narrativa de modo que me lembro de Amanda – mas com muito menos sarcasmo; é mais um ódio contido, passivo-agressivo, tão normal que não a surpreende. Quase blasé.

Me distraio um pouco enquanto pego o celular para ver se há movimentação no grupo “Agamenon +18”. Quando volto minha atenção ao que está sendo dito, a crueldade que se pode imprimir na descrição narrativa de uma situação de violência.

Volta a voz de criança, agora na continuidade do texto. Voz de quem lê com dificuldades, de quem aparenta não entender o que está lendo. A relação com a natureza é ainda mais crua do que todo o comportamento quase blasé da narrativa anterior. E mais um McLanche Feliz (e Sangrando).

No momento do parabéns, Janaina compartilha o procedimento com o público, e o que eu estava chamando de dispositivo é nomeado uma obrigação: cantar a canção no maior número de línguas até o final da realização do projeto. E ela vem com um cacto esquisito que grava e reproduz a voz que ouve.

Janaina não gosta dos picles do seu cheeseburger. Quando eu era pequeno e ia ao McDonalds era sempre um inferno: meus pedidos eram sempre “especiais”, ou seja, sem algum ingrediente, o que gerava – ao menos na época – um grande bug na linha de produção dos lanches que fazia com que meus pedidos levassem muito tempo para ficar prontos. Meu pai odiava me levar ao McDonalds por isso. Hoje acho que os pedidos “especiais” vem mais rápido. É também curiosa de algum modo essa ideia de personalizar algo tão massificado. Sentir que um detalhe faz daquilo único.

Novamente, para a dança, Janaina convoca a plateia – e uma pessoa assume a cena em seu lugar. E arrasa, aliás. A escolha da artista é subverter os dispositivos aos quais todos os intérpretes estão submetidos?

“No final, temos feito o que nos mandaram” diz a atriz enquanto escuta o texto que deve dizer em seu fone de ouvido. Pensava nesse momento sobre qual era a camada discursiva adicionada à encenação pelo uso deste “método” – não é possível olhar para essa escolha somente pelo viés de um texto possivelmente não decorado.

Mas lá está lá, elencando tudo aquilo que ela não inventou. Nada de novo, nada de inédito. É a sexta vez que esse texto é dito e cada uma delas foi diferente. O mesmo texto.

O karaokê também é com o público. É seu pacto, desde o whatsapp até aqui, passando por parabéns e dança.

E “onde há de se buscar a esperança”. (Vamos ver se dessa vez eu entendo). A esperança está em outra mesa, onde outra família come, que deve ser expulsa e a mesa limpa. A esperança não é o lixo, mas será coberta por ele. E isso faz dela difícil de encontrar.

Mas “Agamenon 12 horas” não é moral da história. Essa metáfora, aliás, é parte pequena da obra – mas está em seu final, como se fosse nessa direção que um sem-sentido do discurso caminha.

“Acumulação de informação nada tem de conhecimento”. É a primeira vez que me atento a essa frase. Por isso elas estão nas antípodas, por isso a internet deveria ter apenas pornografia, por isso o acúmulo de experiência também não protege ninguém. Quando tudo já foi inventado, viver é só acúmulo vazio?

Se há alguma síntese, é o verdadeiro epílogo: gosto do homem; do animal do homem. Odeio o acúmulo de experiência.

Sétima hora – Jorge Neto

Perco o epílogo enquanto tomo um ar e me alongo um pouco. A descrição de Jorge da narrativa é robótica. Já consigo repetir alguns trechos. Ele quebra algumas frases de modo que lembra os vídeos trending no tiktok que utilizam a narração do google tradutor. A dinâmica é quebrada pela fala da atendente do caixa. E volta.

Mais uma vez, o procedimento de aproximação à violência do texto se manifesta em estranheza. Rio mais do que a média do público presente, talvez por estar ouvindo o texto pela sétima vez pela sétima maneira diferente. A agressividade fica só no conteúdo, mas há também algo na entonação, talvez a própria “neutralidade”, que ressalta o horror de cada frase.

Ao contrário da interpretação de Chico, aqui todos do entorno são “normais” – em oposição à robotização do personagem-narrador.

Que ironia cantar “parabéns a você”. O garoto acabou de ser espancado.

Jorge está de peruca e com as unhas pintadas. Gênero é uma das questões na narrativa; algumas das encenações acabam abordando isso de modo mais direto, outras menos. O protagonista-narrador em teoria é um homem, com uma mulher e um filho – os quais agride. O moleque ainda tem uma espécie de trajetória, chegando a cumprir papel importante na construção final da esperança e da tragédia. A mulher não. Escolhas de cada hora realçam ou não o lugar da opressão de gênero, do sexismo.

A figura construída por Jorge opera em uma espécie de intersecção, mas a “humanização” da mulher, do filho e de todas as outras pessoas narradas talvez aponte para a naturalização da violência do patriarcado. Por outro lado, também distancia a própria constituição do masculino e suas operações na sustentação destas mesmas opressões. Ainda, ela mantém o estranhamento em si próprio; são muitas as camadas e as possibilidades de leitura e apreensão crítica da linguagem desenvolvida na cena.

Pesquiso novamente Antípodas e descubro que é o nome de um lugar específico; Ilhas Antípodas, no Pacífico Sul. O sentido, de um lugar diametralmente oposto no globo, o mais distante possível de onde estamos, de algum modo permanece. Talvez essas ilhas sejam perfeitamente a definição de um lugar que pode ser chamado de “por aí”.

José Maria Aznar é um político neoliberal espanhol. Finalmente lembrei de pesquisar a referência. A dinâmica robótica parece começar a entrar em certo curto na variação dos tempos da fala e movimentação de Jorge. A crise do nunca ter feito nada é acelerada corrida ultrapassada a voz antes do pensamento. McLanche Feliz. Não muito feliz.

Já são seis horas e meia, vinte e uma páginas de texto e percebo que não citei Carlos Canhameiro. Quer dizer, não o nomeei, e talvez fosse importante tê-lo feito em vários momentos. Doze horas, doze direções. Idealização do projeto. Mas diante de nós, cada hora é um intérprete. Ele, evidente, está por trás de tanto disso e do todo e dos dispositivos e das recorrências e também das singularidades. Está implícito em todo este texto, creio.

“Um animal simples”. É este o herói. E a voz que escapa no cantar-karaokê andorinha.

Foco em Jorge a ponto de que todo o cenário entulhado de brinquedos se torna uma moldura maciça como se tudo derretesse-se em um só elemento. Qual a singularidade de todos aqueles objetos? Em vitrines são muitos e iguais; mas estamos bem acostumados a ver o quanto pode-se imbuir de sentidos e afetos uma coisa que antes era mero supérfluo. Talvez seja uma das magias do realismo capitalista e da sociedade de consumo. Materialidade é detalhe. É isso?

Não há esperança a se depositar no Norte Global. Não virá de lá nada além de neocolonialismo disfarçado de outras coisas.

Me surpreendo: Jorge subitamente interpreta uma das personagens com sotaque português. Estamos em Europa, é isso? Todos os locais anunciados na dramaturgia são globalizados e encontrados em qualquer esquina (ok, não um vinhedo), como grandes redes de supermercado e restaurantes fast-food. Nas horas que se passaram e se passam podemos estar no Brasil ou em qualquer outro lugar. E a mulher da limpeza chega falando inglês. Jorge intensifica o caráter global da dramaturgia de “Agamenon 12 horas”.

“No Sul está a esperança, mas de que importa se no Norte não há vontade”. Sete horas depois e ainda há algo de novo a ser apreendido do texto. “Eu vejo o corpo como máquina” e esse parece o mote para a hora de Jorge. Agamenon no supermercado é mais uma máquina. “Não estou pedindo para ser humano”

Oitava hora – José Jardim

Zé também entra como máquina. Óculos escuros, smartphone cobrindo a boca, luva em uma mão, capuz; liga a televisão. O epílogo é numa voz feminina, mas seu rosto filmado dubla o texto na tela. Da imersão na realidade virtual de Danielli à multiplicação do próprio ser por meio da tecnologia. Um programa de entrevistas se desenha. A entrevistadora insere uma série de comentários à narrativa.

Curiosa a utilização de tantos recursos multimídia pra construir um diálogo. E um diálogo, de certo modo, consigo mesmo, ao menos enquanto imagem. A oitava hora tem um clima leve, favorecido pelas reações desta outra-Zé. Constantes sorrisos na telona. E um lento movimento do braço do ator. Contido, em outro tempo.

Zé alinha sua precisão corporal ao jogo tecnológico neste corpo-máquina em conversa consigo-outro. É a oitava hora, e já me sinto um tanto cansado, penso ser inevitável. O quanto a sequência influi nessas alterações da recepção? Será que volto outro dia e vejo outras doze horas na sequência? (provavelmente não)

Preciso de um tempo, ir ao banheiro, tomar um ar.

Perco cerca de dez minutos de uma apresentação. Deve ser o maior tempo que fiquei fora.

A movimentação lenta enfatiza a crise do nada. Zé pode estar meditando por trás do celular e dos óculos escuros. Zen. Outra forma de se pensar o nada, o vazio. Diametralmente oposto ao desenvolvido pelo texto. Sete horas e meia e ainda há camadas a se desvelar na dramaturgia. A entrevistadora repete “nada” entre risos leves.

O desprezo ao outro, insistente. O trágico na mesa do KFC. O desperdício é o das grandes potências do Norte Global. É ela que cobre toda a esperança.

O homem animal, o homem que deixa de ser um animal e o homem máquina. A tragédia está em todos? A qual homem cabe a esperança? E quem insiste em impedi-lo de concretizá-la enquanto projetos? No ciborgue etéreo de Zé? Ou ele materializa na pior das conjunções a impossibilidade de esperançar?

Em certas escolhas não há desenrolar no arco da narrativa. O narrador-protagonista vai do início ao fim em insistentes formas. Será assim a confirmação de que não há saída? De que o sentido da vida capturado pelo realismo capitalista será permanentemente bruto, estúpido, e violento, mesmo quando de uma possível tomada de consciência? Em caso afirmativo, é melhor navegar de forma honesta e aberta pelos sem-sentidos que encontramos por aí e também nos mesmos lugares.

Nona hora – Cauê Gouveia

Cauê traz o epílogo em LIBRAS. Mesmo que um vestígio e nem sendo precisamente este o caso, é sempre interessante quando acessibilidade surge enquanto proposição de linguagem. Os sinais que significam dão espaço a uma gestualidade que sublinha e comenta a narrativa constantemente. A situação é inteiramente enxergada em suas ações. Seus movimentos ressaltam a quantidade absurda das compras.

Na manutenção de uma movimentação quase coreografada e na variação entre suas crescentes, Cauê joga com os ritmos da cena levando-a a diferentes limites.

É o entusiasmo do inferno das boas intenções. Não que as intenções sejam verdadeiramente boas, mas no entusiasmo até parece que sim.

McLanche Feliz aqui é elemento pro processo natural de engorda do ganso. É o primeiro a integrar a obrigação de comer à narrativa e não como suspensão, interrupção ou algo do tipo. E faz da “refeição” do McDonalds a representação de tudo comprado de forma supérflua; espécie de epítome do hiperconsumismo.

Inacreditavelmente enfia o cheeseburger inteiro na boca. Não consigo parar de rir; por vezes a escolha da ação cênica acaba até por sobrepujar a situação que gerou o movimento performativo. Isso não é necessariamente um problema, mas talvez a minha reação seja estranha para o público que assiste ao texto pela primeira vez – na nona, alguns impactos já foram absorvidos “o suficiente”.

O protagonista-narrador é aqui um tipo de paizão fracassado, quase vítima de uma família que não o compreende. As questões de gênero gritam na encenação desta hora. A trilha, repleta de risos em vários momentos, parece comentar o patético da figura. Na mesa, fico na expectativa do que acontecerá com a garrafa de 51 ali colocada por Cauê.

“Voltar do supermercado” é quase a antípoda de “sair pra comprar cigarros”. Em certas ocasiões, talvez a segunda faça melhor pra uma família.

Ele banha-se na pinga enquanto lamenta. A relação entre a frustração masculina, o álcool e a violência doméstica desenhada sinteticamente em uma confluência entre texto e cena.

O neon “No pen no gain” me pega de novo. O homem animal não usa canetas. É isso? O homem máquina não usa a caneta para nada além de assinaturas e cálculos. É isso? A esperança na ponta da caneta. É isso? Deve ser tudo isso e nada disso. Penso que ainda não li o banner diante da entrada do espaço cênico no Sesc Avenida Paulista.

As potências que constroem e expulsam tragédias. Tal qual essa ideia de esperança que, antes de receber sobre si todo o lixo, também expulsa quem havia antes naquela mesa. Antes da tragédia (do mundo industrializado) não havia nem a necessidade da esperança? É utópico e idílico; são os sons dos grilos, as estrelas só vistas onde não é aqui. “A esperança tem que ser buscada em outro lugar”.

(O fato da dramaturgia ser espanhola influencia essa construção?)

Qualquer reflexão de outrem, mesmo que ainda consonante com suas falas, é recusada – com exceção do próprio filho. Uma tentativa de formular um pensamento novo como possibilidade de inventar algo que antes não existia. E uma interdição de que qualquer outro possa fazê-lo.

O garoto de Gênova foi um manifestante assassinado pela polícia italiana durante o G8 em 2001.

Décima hora – Nilcéia Vicente

Nilcéia se atrapalha com imensos ursos de pelúcia. São eles as tantas compras em excesso por engano repetidas? Ela se arrasta com eles, rasteja enquanto fala pelo chão. Tanta materialidade no cenário só mesmo para atulhá-lo. A cada hora muitos elementos que entram, dando ainda mais cores ao absurdo do supérfluo.

Há uma corrente em sua cintura, em sua perna. E há pessoas ouvindo o texto pela primeira vez, se divertindo muito. Nilcéia segue do chão entre ursos e impropérios.

Ursos são compras, são atendentes do caixa, são esposa e filho, são as comidas enfiadas goela abaixo; é também o que a sufoca em seus ódios e raivas. É todo o universo da narrativa. Até que se tornam parte dela, presos na corrente.

Família feliz e sangrando no McDonalds da beira da estrada no microfone com reverb. Se lambuzando de uva entre os três ursos presos a ela e a mais um encontrado pelo caminho. Porra, é quase uma orgia – incestuosa, considerando a dramaturgia.

Durante o dispositivo da dança, duas crianças entram. Nilcéia não está exatamente alegre em sua coreografia. Após uma funcionária do Sesc falar com as crianças, a atriz faz um breve aceno positivo com a cabeça pra criança que insistiu em ficar. E um olhar intenso pra funcionária em sua saída. “Agamenon 12 horas” não é exatamente infantil, mas agora os dois meninos discretamente entram na cena pra pegar uma batata do McLanche Feliz. As portas seguem abertas desde as 10 da manhã, afinal. Ainda há espaço pra uma troca: um danoninho por dois chicletes. Dois, um só não, né?

Nilcéia também não come o picles. O momento todo me lembra da matéria sobre o primeiro McDonalds – um guichê de sorvetes, na verdade – a abrir no extremo leste de São Paulo e o acontecimento que se tornou. Pensar consumismo não pode ser feito sem pensar geografia e classe; acesso e imaginário.

Então ela sai. Sobe as escadas enquanto fala. E volta com um urso ainda maior pra se arrastar com ele. O tamanho da tragédia. Da nossa tragédia.

Com três crianças na sua frente, o filho da narradora-protagonista não racha “o cu” de rir. Só se racha. As portas estão abertas, seguem abertas, e uma criança agora senta no banco do cenário. Canhameiro acena pra ele sair dali, eles riem. São doze horas no térreo do Sesc Avenida Paulista.

Dentre essas dez horas, talvez seja mesmo a cena de Nilcéia a melhor para essas interferências. Principalmente pela própria dinâmica proposta, mas também por sua escuta, inteligência e carisma na lida com as situações. Nas suas movimentações e invenções, o narrador-personagem fica até um sujeito simpático – sem que isso o isente, já que a atriz sabe quando modular as densidades da dramaturgia.

Se aproximam as oito horas da noite e Nilcéia sustenta um longo silêncio atrás do microfone. Por alguns momentos, a impressão é de que ela procura alguma coisa no celular, talvez um trecho do texto. Mas ela parece a cada momento mais convicta a sustentar esse não-dizer. Essa recusa a explicar as coisas, lançada no ar antes desse movimento. Um “vamos lá” que nunca chega. Então vem: a tragédia, o mundo industrializado, as potências. Voltas em torno do que já foi dito. Sirene.

Décima-primeira hora – Mercedez Vulcão

Mercedez brinca com as modulações vocais no epílogo. Então começa o texto diante da tela, do ring light, e enquanto se maquia. Blogueirinha. Acabei de reler a sinopse, então penso imediatamente nos usos do tempo na contemporaneidade. E como isso estrutura relações, afetos, a própria ideia de trabalho.

É quase como alguém compartilhando seu dia em um streaming, conversando com seus inscritos na Twitch enquanto se monta, exibe os produtos e trata o texto com humor e leveza. A bem da verdade, já vimos situações piores em programas de “podcasts em vídeo” do estilo “mesa de bar”. Crimes, inclusive. Tudo normal.

Acumula-se na proposta de Mercedez a performatividade drag, a performatividade das redes e a performatividade da própria cena – assim como seus dados de representação inevitáveis. Sua fala é para nós, mas mediada pela tela e pela dinâmica das ações.

Talvez a maior quebra de protocolo: Mercedez é a primeira a retirar o figurino para montar-se drag. E o montar-se enquanto fala da noite maravilhosa, do perder-se por aí. “E pouco me importa o que tem de bom no costume”.

Mercedez permeia o texto com um quê de deboche. “A farra, ela não vai acabar”. Mais uma ação inesperada: no dispositivo do canto, toca violão. Ainda semi-montada, de salto, vestido e touca. E “A estrada da vida” se ressignifica no “nós devemos ser aquilo que somos” ao ser atravessado pela performatividade desta imagem.

Os troianos são do Sul Global nos postais – mas também os russos, o que parece soar um pouco contraditório. Não me lembro o suficiente da guerra de Tróia para elaborar esse pensamento. Mas só na décima-primeira hora que me dou conta que Agamenon está disposto a sacrificar a sua filha por bons ventos na direção do campo de batalha. Ifigênia aqui é o menino espancado? Ou seria ele um pequeno Orestes, cujo movimento de pseudo-redenção no momento da compreensão da tragédia e da esperança é ponto de partida para num futuro vingar o pai assassinado? (Talvez não seja nada disso e me faltem informações para buscar estabelecer esse tipo de referência)

Curioso Mercedez falar sobre não ter inventado nada enquanto está ela própria em estado de criação, já nos detalhes finais de sua montação. Ao chegar no pensamento do conceito do trágico, há na figura algo de grego. Depois que sai da mediação das telas, Mercedez dialoga diretamente com o público, fazendo dele cúmplice. Na dança, transmissão ao vivo no instagram. Mas a relação é com os espectadores no espaço.

Para chegar na esperança, é necessário “soltar o dinheiro”. Esperança é investimento, então. Está sob o lixo porque falta dinheiro pra limpar. Não é uma dualidade entre riqueza e esperança; não são antípodas. Muito pelo contrário. Uma traz a outra, uma é exigida pela outra. Mas não é assim que acontece no capitalismo global. Precisei de onze horas pra entender isso? Porra.

Décima-segunda hora – Veronica Valenttino

É a última hora e na minha cabeça já penso sobre como serão os últimos instantes desse texto. Ele termina junto com a hora de Veronica.

Enquanto Mercedez sai montada, Veronica chega sem figurino, correndo, como que atrasada. Se veste apressada, camada a camada. Fala o epílogo ainda se arrumando. Então começa, organicamente, a compartilhar a narrativa. Colocando-se de forma performativa, sendo narradora-personagem em primeira pessoa, critica o caixa chamando-a no masculino; na sequência, pede para alguém do público ficar como ponto no caso dela esquecer algum elemento da lista de compras; insere diversos comentários à dramaturgia; e inverte a proposta da chupeta com a senha do cartão.

Reafirmando constantemente a questão de gênero, na hora de Veronica é uma mulher que bate em seu marido e em seu filho. Esse dado do texto, então, passa a ter outras significações.

Os dispositivos de canto, dança e parabéns estão pré-gravados nos CDs utilizados a cada hora, gerando algo sim de aleatório no sentido de um não-saber de intérpretes em torno dos momentos em que eles surgirão a cada hora que apresentarão.

No momento da crítica à burocracia das fichas, a menção a nome social, nome civil, retificação. A questão trans perpassa a narrativa através das inserções precisas de Veronica, entre uma segunda camada épica e o caráter performativo de sua presença cênica.

Ou seja, nas doze horas, não apenas o texto continuamente se abre em entendimentos a partir das diferentes postas em cena, mas também é aberto pelo elenco nas proposições que ampliam debates talvez laterais ou pequenos no andamento da dramaturgia de Rodrigo Garcia. Cada escolha oferece camadas distintas de compreensão, reflexão e provocação; funcionando de modo independente, mas consolidando uma experiência única em sua sequência de singularidades.

(O acúmulo de experiência não nos protege, diz a obra, e passadas onze horas e meia, não sinto mesmo que ter visto doze encenações tenha gerado algum tipo de experiência que diferencia minha possibilidade de uma fruição de qualidade em relação a de qualquer outra pessoa que por aqui passou hoje. Há uma soma de intimidades com a narrativa, talvez. É inegável que se manter aberto às poéticas durante tanto tempo gera uma experiência distinta; talvez não pelo acúmulo, mas essencialmente pela diferença. Depois de começar esse parágrafo pensei em apagá-lo, mas já escrevi e vou manter aqui enquanto uma reflexão incerta do que diz)

Veronica pede licença ao público para o momento de comer seu McLanche Feliz, oferece suas batatinhas e o danoninho; faz de cada momento na cena algo de show. A intérprete escolhe suas ênfases de modo que conduz o público com maestria em seus desenhos da narrativa.

Aliás, esse é um dos prazeres da experiência de doze horas: perceber onde cada intérprete lança sua atenção no momento de construir a interpretação de um mesmo texto. Enquanto vejo as luzes se movendo, penso se elas também seguem algum protocolo, dispositivo, se são operadas de acordo com cada cena, com cada hora, ao sabor do operador-criador.

A faixa de Veronica emendou o parabéns à dança! Ela se diverte e diverte o público com isso. Agora são os últimos vinte e cinco minutos de “Agamenon 12 horas” e eles virão sem interrupções da trilha.

Se algumas horas atrás percebi o cenário de quinquilharias mil um maciço derretido, neste momento, entre a captura operada por Veronica, o cansaço, e sabe-se lá mais o que, noto que nem mais presto atenção aos infinitos elementos que o compõem. É uma moldura, que em cada hora significou mais ou menos para a proposição cênica e as camadas da dramaturgia enfatizadas por cada intérprete.

Veronica brinca com as várias opções de modulação do microfone enquanto fala dos postais, olha para o cenário enquanto fala do quintal, usa a caixa da surpresa do McLanche Feliz de cinzeiro e convida uma pessoa do público pra listar tudo que ela não inventou enquanto fuma um cigarro – e então escuta e confirma, entre os tragos. Que imagem bonita, a desse jogo; leve. A angústia, vista em outras horas como paralisante, vira, mantendo-se triste, reflexão.

A brincadeira faz da última hora processualidade, diálogo. Nem parece a mesma personagem-narradora vista mais cedo. Uma dramaturgia, mesmo quando levada quase na íntegra em todas as cenas, é um pretexto para muito. Só com tempo e espaço se pode propor uma experiência de tais características. Doze intérpretes, doze horas. Agora faltam nove minutos e tento já encaminhar alguma conclusão, o que ao mesmo tempo me parece bobagem.

Todo o momento da tragédia escrita em ketchup no Kentucky Fried Chicken é um sprint de Veronica. Acelerando o ritmo nos minutos finais, com a trilha também acompanhando, ela desenvolve o momento derradeiro a partir de suas próprias ênfases, como já havia feito nos últimos cinquenta e sete minutos. “Enquanto travesti falando, eu vejo os corpos como máquina”. Uau.

Não há mais o garoto de Genova, mas a travesti do centro de São Paulo e a PM do estado. Que potência de ressignificação. Esses corpos como uma PUTA máquina. Veronica tira seu figurino enquanto encerra essa jornada trágica, “estúpida, rodeada de gente estúpida”.

Minuto final. Penso na potência dos corpos, das ficções e das realidades. Do tanto que pode o teatro enquanto experiência, experimentação, invenção, fracasso, sucesso. Soa a sirene. Paro nesse instante de inscrever. São vinte e duas horas do dia dez de agosto de 2022. “Agamenon 12 horas” abriu suas portas as dez horas da manhã de hoje.

[colabore com a produção crítica de amilton de azevedo: conheça a campanha de financiamento contínuo para manter a ruína acesa – ou colabore diretamente através da chave pix@ruinaacesa.com.br]

ficha técnica
AGAMENON 12H

Concepção e direção: Carlos Canhameiro
Texto: Rodrigo García
Elenco: Amanda Lyra, Cauê Gouveia, Chico Lima, Danielli Mendes, Eduardo Bordinhon, Janaina Leite, Jorge Neto, José Jardim, Nilcéia Vicente, Mariana Senne, Mercedez Vulcão e Veronica Valenttino
Trilha sonora: Guilherme Marques, Paula Mirhan
Desenho de som: Lilla Stipp
Cenário: Renato Bolelli Rebouças
Iluminação: Daniel Gonzalez
Figurino: Anuro, Cacau Francisco
Fotos: Mariana Chama
Produção: Corpo Rastreado - Gabi Gonçalves

serviço
Quando: 10 a 27 de agosto de 2022. Quarta a sábado, das 10h às 22h.
Local: Praça - Térreo - Sesc Avenida Paulista - Av. Paulista, 119.
Classificação: 14 anos.
Duração: 12 horas
Capacidade: 80 lugares.
Ingressos: Grátis [entrada e saída livre a qualquer momento durante a apresentação]