reflexões, teatro

a retomada possível é coletiva

olhar crítico sobre as obras do III FESTÃO — Festival Regional de Teatro, organizado pela Rede Teatro — Metropolitana de Sorocaba (São Roque, dezembro de 2021). amilton de azevedo viajou a convite da organização e realizou uma atividade formativa antes do festival.

Dois anos separam a segunda e a terceira edição do FESTÃO – Festival Regional de Teatro da região metropolitana de Sorocaba. Já seria tempo demais para uma realização de tamanha potência e relevância em seu contexto, ainda mais considerando que as duas primeiras edições aconteceram no mesmo ano. Em 2018, artistas, coletivos e agitadores culturais formaram a Rede Teatro  –  Metropolitana de Sorocaba (SP). No início de 2019, o I FESTÃO aconteceu em Sorocaba. No final do mesmo ano, o II FESTÃO movimentou Pilar do Sul (SP), criando, recriando e consolidando laços políticos, poéticos e afetivos.

O festival passava a ganhar contornos mais nítidos, suas intenções coletivizavam-se e os diálogos apontavam para uma nova edição no ano seguinte. Mas o ano seguinte era 2020. E então 2021. Os dois anos que separaram o segundo e o terceiro FESTÃO foram o tempo das circunstâncias; o intervalo possível – e necessário. 

Dentro da realidade emergencial do setor cultural, Lisa Camargo, produtora e diretora artística da Companhia de Eros, de São Roque (SP), foi contemplada pelo Edital nº 47/2020 do Programa de Ação Cultural (ProAC) do Estado de São Paulo, vinculado aos recursos federais da Lei Aldir Blanc, por seu histórico de realização em teatro. A Prefeitura Municipal de São Roque, por meio da Divisão de Cultura, também apoiou o III FESTÃO.

A partir daí, vislumbra-se a retomada. Retomada. Palavra-chave para esse momento histórico, entre idas e vindas, fechamentos e aberturas, fases e fases do contingenciamento da pandemia que ainda nos assola. Entre o II FESTÃO, em Pilar do Sul, e o III FESTÃO, em São Roque, entre o final de 2019 e o final de 2021, mundos inteiros se foram e se inventaram.

A retomada possível é coletiva. Só assim se faz teatro, só assim se pode viver. Na ficha técnica do festival, que consta ao final deste texto, artistas, pesquisadores, produtores, técnicos e profissionais de diversas áreas, coletivos e cidades. De três a cinco de dezembro de 2021, o belíssimo Centro Educacional e Cultural Brasital recebeu, entre suas matas e salas, vinte e cinco atrações de doze cidades da região metropolitana de Sorocaba, reafirmando a intenção da Rede Teatro de construir e consolidar um corredor cultural entre as cidades.

Na programação, onze coletivos que estiveram em Pilar do Sul no II FESTÃO e catorze estreantes no festival. Há uma importante tensão entre grupos – e obras – já consolidados não apenas em suas cidades, mas com trânsito por diversas regiões do estado e do país, e outras companhias mais jovens. O público local tem a oportunidade, assim, de vislumbrar produções de distintas linguagens, do teatro de rua à performance, do melodrama ao pós-dramático e tanto, tanto mais – daí, inclusive, a importância de manter o FESTÃO como um festival itinerante, visitando as várias cidades da região e fazendo a arte e a cultura circularem. Sorocaba, Pilar do Sul e São Roque: a IV edição já está confirmada para Votorantim (SP).

Companhia de Eros em Cortejo da Folia / foto: Bruno Martorelli
Companhia de Eros no “Cortejo da Folia” / foto: Bruno Martorelli

Retomada. Muito mudou desde 2019. Grupos entraram em hiatos forçados, temporadas foram canceladas, estreias prorrogadas. Sendo o FESTÃO um festival pensado por artistas, uma decisão inteligente foi tomada ao se estabelecer duas formas de apresentação: no Cabaré, obras em processo, experimentais, recortes, cenas de até quinze minutos e quatro trabalhos vistos em sequência pelo público; e um formato mais sintético, de até uma hora, para espetáculos com um desenvolvimento mais consolidado, fossem obras de repertório ou estreias locais.

Como sempre, uma escolha traz consigo uma renúncia; a condensação das 25 atrações é positiva em diversos sentidos, mas pode gerar um cansaço no público interessado em acompanhar o festival como um todo. Com a dinâmica da programação ocupando mais de um espaço – algo que não ocorreu no II FESTÃO – há pouquíssimo intervalo entre as obras, o que traz também certo prejuízo à fruição e, por vezes, pouco espaço para o debate e a reflexão. 

O caráter pedagógico do FESTÃO não é algo esquecido pela Rede Teatro; muito pelo contrário. Cada vez mais o coletivo reflete em torno das possibilidades de trabalhar na direção da formação, seja no sentido do olhar do público, seja no sentido da verticalização das pesquisas artísticas daquelas e daqueles que se apresentam no festival. Trata-se, no fundo, de uma busca constante para que o FESTÃO não se encerre nele mesmo, reverberando ao longo do ano e no intervalo entre as edições.

É possível, é bonito, já está em movimento. Retomada. Vinte e cinco trabalhos singulares e em distintas etapas da criação; em diferentes trechos desta imensa caminhada, repleta de bifurcações e preenchida por encruzilhadas, que é fazer arte, fazer teatro, neste país, neste estado, nesta região, nestes tempos. A reflexão crítica não se isola deste contexto mas também não pode se furtar de seu rigor. Assim, falemos sobre – e a partir – das obras.

Aos (entes) não queridos Coletivo Narciso (São Roque)

Começar de peito aberto para não começar no abismo. Essa foi uma das primeiras falas enunciadas pelo Coletivo Narciso na apresentação que abriu o III FESTÃO. Começar de peito aberto. Público e artistas, de peito aberto. No início, um breve jogo divide os espectadores. Apenas alguns deles irão acompanhar o trajeto pela cidade proposto em Aos (entes) não queridos. Como se na cena, na possibilidade de efetivamente estar diante da cena, se repetisse a desigualdade do mundo contemporâneo.

Não cabem todos no bonde da História, com maiúscula e repleta de apagamentos; não cabem todos na espécie de carreta disponibilizada pelo Narciso para a obra em trânsito. Os que podem embarcar passam a ser tratados como o 1%. A narrativa política da encenação se estabelece desde o seu início, de modo que não há muito espaço para a agência (e talvez até compreensão) do espectador sobre esta convenção. 

Talvez, então, sejamos nós os entes não queridos. Ou talvez sejamos os aos-entes, ali, privados da escolha de construir junto, inseridos enquanto observadores passivos, alvos do discurso da encenação. O Coletivo Narciso fala precisamente de memória e esquecimento, em um diálogo que fricciona narrativas íntimas e sociais, tendo no itinerário proposto a potencialização de seu caráter político e coletivo ao trazer na dramaturgia o enfrentamento simbólico à prédios públicos e a lembrança do que já houve em ruínas.

Pelas ruas, calçadas e praças de São Roque, performers também criam composições que tensionam a paisagem real à imagens metafóricas. Aos (entes) não queridos interage com a cidade, com o que ela grita, com o que ela cala; com Brasis, casas e cemitérios. Memória pública, memória privada e as testemunhas do que acontece, aconteceu e pode acontecer: cabe ao Coletivo Narciso compreender como cerzir dimensões tão diversas de forma coesa e coerente, mesmo que caótica e anárquica.

Pois situar-se – ou ser lançado – à margem é também refletir em torno de onde está e de quem ocupa o(s) centro(s). Confrontar e habitar. Construir a ausência enquanto presença, fazer dela cicatriz no que ficou, no que está, no que virá.

Sob o Azul do Céu Companhia Clássica de Repertório (Sorocaba)

Prestes a completar 25 anos desde sua estreia, a dramaturgia de Mario Persico é bom exemplo da potência do melodrama. Sob o Azul do Céu está centrada na reconciliação entre pai e filho, temática que parece nunca perder sua força. Tecnicamente, é o que se pode chamar de uma peça bem feita na acepção tradicional do termo: lá está a crescente da ação dramática, que se desenrola em um horizonte de expectativas definido, com algumas surpresas ao longo do caminho, mas nenhum grande sobressalto.

Há de se pensar em torno de certas piadas em torno de gênero e o modo que se lança o olhar sobre a questão da doença do filho – é perceptível que Persico vem revisitando o texto a fim de mantê-lo atualizado, de modo que a dimensão de acontecimentos e circunstâncias esteja adequada aos tempos que correm, principalmente ao considerar a linguagem da obra (um exemplo recente de encenação que lida com a Aids em uma perspectiva absolutamente contemporânea é A Doença do Outro, de Ronaldo Serruya).

Conforme o próprio nome do grupo anuncia, a Companhia Clássica de Repertório levou à Brasital um trabalho vinculado à certa tradição clássica do teatro (o melodrama) e de seu repertório há duas décadas, com a interpretação tecnicamente precisa de Persico e Tiske Reis, emocionando boa parte do público. O III FESTÃO, em suas duas apresentações inaugurais, já ofereceu aos moradores de São Roque exemplos radicalmente diversos do universo que é a arte teatral.

Jocasta, mãe da humanidade Trupé de Teatro (Sorocaba)

No II FESTÃO, a Trupé construiu um flerte aterrorizante entre contos de fadas e depoimentos pessoais no contundente Manual de Sobrevivência, onde o tema central era a violência contra a mulher em nossa sociedade. Agora, é na mitologia grega que o coletivo busca suas fontes: Jocasta, mãe da humanidade, olha nos olhos do público e se pergunta o que pode uma mãe.

Uma mãe diante de filhos tão plurais quanto a humanidade, que fazem o bem mas também cometem inomináveis atrocidades. Eu parto, me parto, me aparto. Parir, partir, parir. Em meio ao desespero desta que é tantas e tantas, emerge também a noção de irmandade entre todos os seres. Não na forma de um universalismo humanista, mas em uma convocação à fraternidade enquanto possibilidade comum de construção e reflexão coletiva. Jocasta é uma semente que pode desenvolver-se em infinitas direções em pesquisa. E o que fazer com a gênese mítica? A Trupé parece ter ideias em torno de quem são não apenas estas mães da humanidade, mas também seus Laios e Édipos; e tantos outros os seus e em seus entornos.

Experimento cênico de palhaçes Núcleo Aclowndemia de Palhaçaria (Sorocaba)

A Aclowndemia trouxe dois quadros solos de palhaçaria relacionados a situações cotidianas. De caráter notadamente experimental, ambos já divertem, ainda que prescindam de uma maior precisão tanto em questões técnicas quanto na dramaturgia cênica.

Dado (Jéssica México) e Longuinha (Natasha Amaral) são carismáticas e as situações dão pano para a manga – é questão de tempo até que encontrem o punch de suas experimentações, ainda mais considerando que os quadros fazem parte da pesquisa do futuro espetáculo da Aclowndemia, sob orientação de Samir Jaime.

Enquanto a faxina feita por Longuinha é um prato cheio para gags clássicas, a relação de Dado com seu novo assistente virtual (aliás, o Biroska de Vitor Silva poderia se relacionar ao vivo com Dado) é um achado no sentido de aproveitar a possibilidade crítica inerente à linguagem cômica – que pode ser desenvolvida de modo muito rico a partir da máscara de palhaçe.

Dado (Jéssica México), da Aclowndemia de Palhaços / foto: Bruno Martorelli
Dado (Jéssica México), da Aclowndemia de Palhaços / foto: Bruno Martorelli

Pedro Malasartes em O Urubu Falante Saindo do Conto (Porto Feliz)

As desventuras de Malasartes já são tradicionais na cultura popular. O Saindo do Conto apresenta uma destas narrativas de modo singelo. Há algo de teatro popular e também de contação de histórias, sempre no flerte com um regionalismo interiorano. E trabalhar com estruturas e conteúdos já consagrados é sempre um costume à revisitá-los diante do que nos circunda. 

Com atuação, direção e roteiro de Matheus Provazi, a obra poderia se verticalizar a partir da presença de um olhar externo a fim de sintetizar a dramaturgia e investir em ações físicas mais relacionadas ao enredo, assim deixando o intérprete mais à vontade em sua construção cênica.

Contando histórias Companhia Liber D’arte (Ibiúna)

Narrativas das águas, seus mitos e encantados: Lu e Cadu, interpretados por Rafaela Campos (também diretora e dramaturga) e João Victor Lima, vêm acompanhados do músico Camargo Neto e já chegam no espaço contando histórias. Carismáticos, jogam com leveza e se revezam enquanto narradores, manipuladores e comentadores da ação. 

Dinâmica, a encenação poderia amarrar mais alguns momentos de seu texto, assim como seria interessante um zelo maior com os objetos e adereços ressignificados pela manipulação. Nestes contos d’água, míticas ribeirinhas, caboclas e indígenas passeiam na fluidez do rio, em cruzos que aproximam culturas distintas de formas orgânicas, ainda que com certos ruídos na fricção entre moralidades diversas, expectativas e desenrolares.

Auto da Compadecida Grupo Theatron (Mairinque)

Talvez a dramaturgia brasileira mais conhecida do grande público, o texto de Ariano Suassuna habita o imaginário de muita gente, marcadamente pela adaptação audiovisual dirigida por Guel Arraes. Então, como aproveitar as (excelentes) referências já existentes e ainda assim construir uma obra autoral? 

A encenação do Grupo Theatron traz consigo um dado pedagógico na presença maciça de jovens no elenco e um frescor no jogo construído em cena. Mas também transita entre imagens reconhecíveis do trabalho de Arraes – como, entre outros momentos, na canção tocada por João Grilo na gaita para reviver Chicó.

É uma escolha arriscada, visto que a precisão da cena no palco pode ficar aquém das memórias do público, mas que, de modo geral, funciona. Auto da Compadecida mantém viva a potência do texto de Suassuna, ainda que a encenação perca o ritmo nas dinâmicas de troca de cena. Quando o trabalho utiliza o corredor na plateia, é importante que o elenco mantenha a qualidade de presença; que permaneça inteiro dentro da ação.

Ainda, é possível pensar em outras possibilidades de transição que não um movimento burocrático de saída e entrada do palco pelas coxias. Os narradores-palhaços e a própria comicidade da linguagem popular de Suassuna poderiam ser melhor utilizados neste sentido. O Theatron parece caminhar de forma divertida na construção de sua própria versão do Auto, brincando com o profano que se apresenta às portas da igreja.

Treis causo e o resto é prosa Nossa Trupe Teatral (Tatuí)

Na ficha técnica de Treis causo e o resto é prosa, Jaime Pinheiro assina direção, cenografia e uma função talvez inusitada, mas fundamental para o sucesso da empreitada da Nossa Trupe Teatral: consultoria caipira. Ainda paira, em certo imaginário, uma forma consolidada, talvez até antiga, de retratar a figura do caipira; de se formalizar um espetáculo regional. 

Pois nestes Treis causo esta imagem engessada é exorcizada pelos benzimentos de Dito, pelas cantigas de Zé e pelos comentários de Tonho. Os três personagens interpretados por João Fabbro, Rodrigo Costa e Thiago Leite, que assinam a dramaturgia ao lado de Pinheiro, compõem um retrato singelo e delicioso numa situação onde o resto é prosa. 

Entremeados por canções belamente interpretadas pelos atores, os treis causo narrados e comentados pelos amigos são uma celebração de um modo de vida típico do estado de São Paulo. Com muito respeito, Fabbro, Costa e Leite constroem figuras reconhecíveis, carismáticas e representativas de uma tradição interiorana. 

Excelentes intérpretes, oferecem ao público com suas vozes, viola, sanfona, palavras, gestos, benzimentos e simpatias, a experiência do convívio caipira em suas narrativas críveis e incríveis.

Nossa Trupe Teatral em "Treis causo e o resto é prosa" / foto: Bruno Martorelli
Nossa Trupe Teatral em “Treis causo e o resto é prosa” / foto: Bruno Martorelli

A menor monção do mundo – Ararapuca (Porto Feliz)

As expedições fluviais em direção ao Centro-Oeste do país ocorridas entre os séculos 18 e 19 fazem parte da história de Porto Feliz – denominação proveniente do porto de Araritaguaba, ponto de partida das chamadas monções. Espécie de continuação das bandeiras, as monções foram fundamentais no movimento de colonização do interior do país.

São histórias de exploração de recursos naturais e de pessoas; como pode a arte lidar com uma questão simultaneamente violenta e fundante de uma região? O grupo de teatro Ararapuca parece brincar com essa narrativa de origem desde a escolha de seu nome. Em sua menor monção do mundo, o grupo explora uma linguagem satírica e repleta de comentários ácidos sobre os tempos que vivemos. É uma operação que, mesmo amparada em uma dramaturgia ainda incipiente, encontra momentos de grande comicidade.

Nem tudo são rosas Silvana Sarti (Sorocaba)

Um caminho de flores que se constrói por onde se dói ao caminhar. O que se tornam os rastros das rosas pisadas por Silvana Sarti? A beleza possível, ainda que repleta de sofrimento, faz da performance Nem tudo são rosas uma espécie de imagem-síntese deste III FESTÃO, deste Brasil, deste(s) ano(s) que insiste(m) em não terminar.

Um tempo que se demora; um silêncio que se sustenta. Sarti olha para as flores, olha para seus passos, olha para nós, que a olhamos. Suas sensações estão ali mesmo quando tudo parece vazio. É um andar prenhe de sentidos. Finda a ação, algumas pessoas registram em imagens aquela trilha. Outras tomam para si uma, duas, algumas flores; talvez sem saber, carregam para suas casas os rastros do caminho belo e doloroso que é a vida e o seguir vivendo.

O caipira e a fiscar Tapanacara Mutatis Mutandis (Itapetininga)

Um caipira querendo pescar é importunado por uma fiscal da prefeitura. A situação proposta pelo Tapanacara Mutatis Mutandis ecoa a relação entre um mujique e um juiz de instrução em O Malfeitor, de Anton Tchekhov, quando o primeiro é flagrado furtando a porca de uma ferrovia para utilizá-lo como chumbo de pesca. Tanto ali quanto em O caipira e a fiscar, a figura sendo acusada de algo oscila entre ingenuidade e esperteza.

Nas normas apresentadas pela fiscar, reverbera também a labiríntica burocracia presente em certas obras de Franz Kafka. Há, então, certo lastro profundo e antigo na proposta do Tapanacara, mesmo se tratando de uma esquete cômica razoavelmente simples. 

Severino Alves, o caipira, e Rose Gomes, a fiscar, jogam de modo dinâmico, ainda que estando em diferentes registros de interpretação – neste sentido, vale pensar sobre a escolha de ações físicas que sustentem de forma orgânica a narrativa (como, por exemplo, uma atenção maior à lida com a vara de pesca, na ocasião do III FESTÃO representada por um comprido toco de madeira), conferindo também aos corpos a qualidade presente nas construções vocais.

Com a repetição e o desenvolvimento da relação, o conflito faz com que o caipira se mostre cada vez mais matuto e a fiscar cada vez menos apta a lidar com uma realidade distante da sua.

As Peripécias da Côrte de Lá Gente de Quem? (Cerquilho)

Na versão apresentada no III FESTÃO, o Gente de Quem? trouxe um recorte das Peripécias da Côrte de Lá, de modo que o público teve um aperitivo das aventuras das figuras deste reino distante. Assim, a dramaturgia da obra infantil não foi descortinada, ficando um pouco confusas as origens e até mesmo as características de cada personagem.

O trecho apresentado, no entanto, diverte ao levar as gags cômicas até o limite, aproveitando-se do registro histriônico de algumas interpretações. O acompanhamento musical confere dinâmica às Peripécias, coloridas em seus figurinos e adereços.

O inferno são os outros Teatro Escola Mario Persico (Sorocaba)

Assim como na encenação de Os fuzis da Sra. Carrar no II FESTÃO, o trabalho do Teatro Escola Mario Persico apresentado na terceira edição do festival demonstra um zelo quase excessivo com as marcações e a composição cênica. A partir de Entre quatro paredes, de Jean-Paul Sartre, O inferno são os outros faz do corredor central da Sala de Música o quarto fechado onde três pessoas, mortas, são condenadas a conviver por toda a eternidade.

Há uma nítida apropriação do texto e das personagens na interpretação de Rai Queiroz, Michele Sonsin e Rafael Moreira: mesmo nas movimentações notadamente propostas pela direção para a construção de imagens (que, na disposição proposta pelo espaço, não funcionavam inteiramente para todas as pessoas no público), o elenco estava preenchido e imbuído das motivações de, respectivamente, Inês, Estelle e Garcin.

O inferno são os outros está a todo momento remetendo à frase-chave, da dramaturgia de Sartre, dita por Garcin; tornando os olhos do outro o espelho – e a única expiação possível – daquilo que somos, fazemos e fizemos. Na inserção de Non, je ne regrette rien, nacionalmente conhecida na voz de Cássia Eller, como leitmotiv das personagens, a encenação de Mario Persico oferece ao público uma reflexão com mais provocações do que respostas.

O que os pássaros carregam Camarim Cia. de Teatro (Sorocaba)

Para sua participação no III FESTÃO, a Camarim Cia. de Teatro trouxe uma poética experimentação: O que os pássaros carregam traz consigo uma materialidade onírica. No corpo, voz e movimentação de Maria Helena Barbosa e Júlio Scandolo, o sonho do voo e o que se pode imaginar juntos. 

"O que os pássaros carregam" / foto: Bruno Martorelli
“O que os pássaros carregam” / foto: Bruno Martorelli

Há algo que talvez se possa chamar de um lirismo ritual em toda a organização do trabalho. Quando Scandolo dança utilizando fones de ouvido, estabelece-se ali, diante do público, uma espécie de segredo. O grupo propôs um bate-papo após a apresentação, onde algumas pessoas relataram que o não-compartilhamento das músicas ouvidas pelo performer quase não fazia diferença: como se na reverberação daquele corpo-pássaro se pudesse ouvir quais cantos ecoavam ali.

Na entrada de Barbosa, o diálogo era também confronto – curioso notar e pensar sobre como Scandolo, ainda de fones, reagia aos flertes-ataques da atriz. De todo modo, nO que os pássaros carregam a Camarim oferece ao público a vivência de uma temporalidade dilatada, além do convite à participação na distribuição de instrumentos, majoritariamente rítmicos, para muites na plateia.

Ali, o sonho dos pássaros coletiviza-se na experimentação aberta, fosse ela harmoniosa ou dissonante, no que se estabelecia como o dançar de uma natureza possível para este momento.

Alegria – o auto do circo Nativos Terra Rasgada (Sorocaba)

Se o palhaço Berinjela já esteve representando o Nativos Terra Rasgada com seu Grande pequeno circo no II FESTÃO, agora ele retorna como personagem central dos acontecimentos que movimentam Alegria – o auto do circo. Aqui, o circo emerge simultaneamente como metáfora do mundo e como parte integrante – e vitimada – da roda dentada do capital.

Berinjela (Samir Jaime) em "Alegria" / foto: Bruno Martorelli
Berinjela (Samir Jaime) em “Alegria” / foto: Bruno Martorelli

Essencialmente, trata-se de um auto de Natal, onde Berinjela faz as vezes de salvador – incumbência que, sendo realizada dentro da máscara do palhaço, trará consigo momentos de beleza singela e muitos outros de riso solto. 

Trabalho de repertório do Nativos Terra Rasgada, Alegria é exemplar enquanto construção possível de celebração e crítica dentro da linguagem do teatro popular e de rua. Respeitoso sem ser condescendente, conta o Natal e recria renascimentos enquanto responsabiliza, sem deixar espaço para dúvidas, os perpetradores dos males representados.

O tempo do nascimento é o tempo da revolução; e não são tão invisíveis assim as mãos do mercado e daqueles que agem em seus interesses.

O abrigo da besta Companhia Imediata de Teatro (Sorocaba)

O mito e a figura de Medeia não são apenas fontes inesgotáveis de revisitações e abordagens outras: são convites constantes de artistas contemporâneas em suas criações possíveis para repensar o presente.

Merlin Kern parte do texto de Maurício Toco para, sob a direção de Angela Barros, construir O abrigo da besta como uma peça-palestra-meditação-ritual sobre a mulher e as trajetórias de tantas mulheres históricas, a-históricas, míticas e do presente. São muitas as potências míticas que ainda emergem e podem emergir de Medeia, heroína trágica cuja desmedida foi antes de outrem.

Ao término de sua contundente atuação, explanação, reflexão, Kern convida todas as mulheres presentes para uma ação coletiva, materializada enquanto cena e ritual pagão, onde são evocadas diversas deidades femininas. Um convite a, ali, naquele instante, produzir vida.

Pés – dos tempos que a calçada de terra guardou, como passar e sentir Grupo de Teatro Escarafunchar (Pilar do Sul)

Anfitriões do II FESTÃO, o Escarafunchar trouxe para São Roque uma obra cuja itinerância está nos espaços e nos passos: Pés – dos tempos que a calçada de terra guardou, como passar e sentir costura narrativas íntimas e(m) ficções com uma delicadeza ímpar. A encenação do grupo faz refletir em torno da importância da formalização das temáticas, principalmente quando de fonte biográfica, a fim de escapar do clichê, do lugar comum, da autoajuda.

São riscos que se correm a partir destas escolhas, mas que em Pés são superadas no momento que radical e frontalmente atravessadas pelas proposições estéticas do Escarafunchar, construídas em processo coletivo. A obra, em seus muitos momentos de interação direta entre artistas e plateia, convida o público à participação – seja ela direta, no compartilhamento de memórias, em palavras ou canções, seja na insistência de provocar sensações a partir dos vários estímulos: o cheiro do café e do bolo que assa, o trepidar do trem, os pés na terra…

Pés é uma celebração da vida, das vidas, de artistas, de ficções, de mitos. Um tranquilo implicar-se daqueles que propõem a obra e dos que a fruem. Entre acasos e destinos, brindes, medos e semeaduras, um plantar dos pés que caminham e seguem caminhando.

Sobre viventes Coletivo Uma de Nós (Sorocaba)

Para o III FESTÃO, o Coletivo Uma de Nós trouxe um trabalho em diálogo com um tema tão candente quanto Poesia que espanca, apresentado em Pilar do Sul. Se ali o foco estava lançado sobre a violência de gênero, eminentemente em sua manifestação doméstica, agora, em Sobre viventes, as artistas voltam seu olhar para aquilo que nos circunda: envoltas pela realidade dos fatos, duas personagens escancaram a histeria do gado. 

No cenário, jornais embalam até mesmo os refletores. A materialidade da cena contrapõe-se ao negacionismo e à alienação das figuras ali presentes. O trabalho da Uma de Nós, inspirado no poema Declaração Em Juízo, de Carlos Drummond de Andrade, formaliza-se enquanto uma reflexão direta e contundente do que significa (sobre)viver no Brasil pós-2018, quando, a cada dia mais, nada sustenta o absurdo que nos envolve.

A interpretação de Ana Lúcia Mendes e Anália Marques (que estão acompanhadas por Juliana Perfetto, ao fundo, pontuando e comentando em ações, reações, gestos e adereços, aquilo que se passa na cena) avança em uma crescente vertiginosa na direção de uma (esperada) exaustão. Quando as personagens vestem seus capacetes, talvez ali ainda mais distantes de uma reflexão construtiva em torno da própria condição, muito do texto se perde – mas, naquela construção, naquela gritaria desesperada e desesperadora, talvez mais impactante seja mesmo a imagem do que a palavra.

ÔtovinuCia 2 e Meio e Palhaço Fusquinha (Sorocaba)

O carisma do palhaço Fusquinha é inacreditável. Por conta da dinâmica dos horários e da logística do FESTÃO, o público já se fez presente no Espaço Arena enquanto Paulo Galindo preparava sua apresentação. Ôtovinu trouxe dois números de um espetáculo mais longo; o recorte não prejudicou Fusquinha. 

O jogo com a dificuldade crescente e o trânsito entre execução técnica precisa, piadas absurdas e uma profunda escuta das reações – tanto dos espectadores quanto dele próprio – faz com que o público fique na palma da mão de Galindo durante todo o trabalho.

Cerotinho Coletivo Cê (Votorantim)

Julio Mello traz com seu Cerotinho um show de stand-up protagonizado pela personagem de mesmo nome. No recorte apresentado no III FESTÃO, Mello aproveitou bem os minutos em cena: a ingenuidade de Cerotinho e as piadas possíveis em torno de sua cidade de origem funcionaram na execução precisa do intérprete, ainda que a dramaturgia pudesse ser mais generosa na contextualização da proposta. O artista constrói com precisão a divertida figura e, mantendo a escuta aberta para a reação do público, compõe bem seus tempos e silêncios.

Memorar: uma história contada por um pangaré caduco? Lelis Andrade e Flavio Melo (Mairinque)

Um ensaio. No encontro de Lelis Andrade, Flavio Melo, a personagem Panga (de Opa! Mais uma Vez, adaptação da Companhia de Eros a partir de Peças e Pessoas, de Luis Alberto de Abreu) e Bertolt Brecht, os artistas propõem uma construção seguida de sua própria desconstrução em uma apresentação didática, que compreende o campo da narrativa e da representação como espaço de debate.

Lelis Andrade em "Memorar" / foto: Bruno Martorelli
Lelis Andrade em “Memorar” / foto: Bruno Martorelli

O ensaio é aqui estrutura cênica – enquanto repetição; enquanto conteúdo em processo, em estudo – e também estrutura reflexiva – enquanto organização livre de materiais diversos. Andrade e Melo estão juntos no espaço da cena, ágora de proposições estético-políticas, explicitando no tempo e na teatralidade os códigos construídos em ação. 

Assim, o público torna-se partícipe da reflexão que se decanta nas materialidades pesquisadas; no jogo de xadrez, no gole de café, na maçã liquidificada e nas imagens projetadas, todas à serviço da discussão política e da explicitação da luta de classes como fundamento e gatilho de tais composições.

Opinião conta Dandaras Companhia de Opinião (Salto)

Opinião conta Dandaras. O nome próprio no plural anuncia as intenções da Companhia de Opinião: Dandara dos Palmares é evocada enquanto símbolo para contar sobre séculos e séculos de exploração mas também, fundamentalmente, de resistência de mulheres pretas. A força desta ancestralidade está no Espaço Arena do III FESTÃO tornado terreiro na noite de sábado. Está na dança, na voz, na arte, na vida que ali pulsa.

A encenação se organiza em quadros que compõem uma narrativa épica; uma construção dialética entre cantos, versos e compartilhamentos que trata da realidade brasileira, brutalmente atravessada pelo racismo e pela escravidão, fundantes da miséria dos tempos que correm.

Entre as vivências das artistas em cena e a história do nosso país, desenha-se um recorte, entre tantos possíveis. Opinião conta Dandaras opera em sua teatralidade a compreensão de que a cena é um espaço onde se pode gritar. Um espaço onde se faz gira para aquilombar.

Dublagem com a boneca pigGrupo Teatral Lange (Cesário Lange)

O número apresentado por Claudemir Guerra na manhã de domingo, terceiro dia do III FESTÃO, é em si simples e bem executado: uma manipulação acompanhada de fundo musical, onde artista e boneca interagem e relacionam-se com famosas canções românticas.

No entanto, pedindo licença para inserir aqui no texto a primeira pessoa, foi durante a singela Dublagem com a boneca pig que me vi atravessado pelas circunstâncias daquele momento. Explico: era uma manhã de domingo em São Roque, antes das 10 horas. No dia anterior, o FESTÃO havia apresentado dezessete espetáculos, diversos em linguagem e também na presença de público.

Naquele domingo, 5 de dezembro, a plateia recebia algumas crianças com seus pais e um grupo coeso e igualmente animado: o Grupo Teatral Lange havia trazido, de Cesário Lange, cerca de dez ou doze crianças, acompanhadas de adultas, como monitoras, para assistir àquela apresentação (e as que a sucederiam).

Cesário Lange é uma cidade com menos de vinte mil pessoas – e, na Região Metropolitana de Sorocaba, tantas outras também são pequenas no que diz respeito às suas populações. E ali estavam cerca de vinte das habitantes de lá, interessadas e interagindo com a produção cultural e artística de sua cidade e de sua região. Me vi comovido diante dessa percepção: um lembrete da dimensão do fazer artístico; da dimensão da ação cultural local, conectada às populações, tradições e possibilidades de uma região.

Não se trata de louvar toda e qualquer apresentação, visto que é necessário manter o rigor, inclusive enquanto responsabilidade ética, formativa e estética, mas de celebrar, sim, os movimentos possíveis de pessoas em suas comunidades que decidem propor ações coletivas e coletivizantes em prol do desenvolvimento cultural e artístico de seus entornos.

O céu é a lona Circo Guaraciaba (Votorantim)

Alexandre Malhone, oriundo da família fundadora do tradicional Circo Guaraciaba, traz novamente para o FESTÃO a obra O céu é a lona, apresentada na praça matriz de Pilar do Sul na segunda edição do festival, em 2019. Malhone revisita os números de malabares e as gags de palhaçaria com um frescor ímpar, inserindo na dramaturgia a razão de ser de seu trabalho: palhaço de rua, faz de qualquer espaço seu picadeiro e tem sobre si o céu como lona, compartilhando com seus espectadores não apenas seu talento mas também um discurso de valorização da arte e da cultura, compreendendo as implicações políticas de seu fazer.

É verdade que, ao ser apresentada dentro do Centro Educacional e Cultural Brasital, a obra perde a abertura ao risco que somente uma praça pública pode oferecer no fluxo de seus inesperados e espontâneos transeuntes. Mas O céu é a lona manteve sua potência central: o equilíbrio perfeito de Malhone entre técnica, carisma e escuta.

Cortejo da Folia Companhia de Eros (São Roque)

Encerrando o III FESTÃO, a anfitriã Companhia de Eros apresentou um recorte de seu novo trabalho em desenvolvimento. No Cortejo da Folia, um auto de carnaval, a companhia lança seu olhar para o passado para refletir sobre o presente e o futuro vindouro. Há um século, em 1918, a gripe espanhola assolava o mundo, chegando também ao nosso país. No ano seguinte, o Rio de Janeiro viveu o que se considerou o carnaval dos carnavais.

Companhia de Eros no "Cortejo da Folia" / foto: Bruno Martorelli
Companhia de Eros no “Cortejo da Folia” / foto: Bruno Martorelli

Os foliões da Companhia de Eros cantam, pois, que no ano que passou não teve carnaval, mas neste ano tem. Durante os dias do FESTÃO, a variante Ômicron passava a fazer parte dos noticiários diários e, de lá para cá, não foram poucas as cidades que adiaram, suspenderam, cancelaram seus carnavais. Mas o que segue, e deve seguir, é a esperança nos dias que virão.

Assim, até mesmo a própria Espanhola é tornada personagem do cortejo e, mesmo diante do cenário de perdas e luto, a pulsão de vida segue latente: o purgatório parece ser onde habitam aquelas figuras – e ele é compreendido como espaço possível de criação. De fonte de histórias a serem contadas e cantadas.

O carnaval, a festa da carne, é o que evoca-se enquanto sonho de amanhã. Enquanto resgate, enquanto retomada. O encontro. Mesmo que rodeada por cuidados, atenções e protocolos, a única retomada possível é coletiva.

Retomada

São Roque. Pilar do Sul. Sorocaba. Votorantim. Cesário Lange. Salto. Mairinque. Cerquilho. Porto Feliz. Itapetininga. Tatuí. Ibiúna. Há sempre muito a se fazer, há sempre muito sendo feito. Após as vinte e cinco apresentações, no domingo, tive o prazer de falar um pouco sobre tudo o que vi com as pessoas ali ainda presentes. Aquela conversa e este texto são registros e reflexões em torno do III FESTÃO que partem de um olhar – que se pretende ampliado, plural, mas é ainda singular.

Nem sempre é possível dar conta de tudo, e que bom que seja assim, pois deste modo o diálogo se mantém em processo. Para encerrar, na expectativa e já ansioso pela quarta edição, agora em 2022, sempre disposto a pensar e estar junto, trago apenas uma frase que compartilhei ali naquela deliciosa e quente tarde de domingo. É uma frase de Ailton Krenak:

A vida é fruição.

Vida longa à articulação coletiva da Rede Teatro da Região Metropolitana de Sorocaba. Vida longa ao FESTÃO! Seguimos.

[colabore com a produção crítica de amilton de azevedo: conheça a campanha de financiamento contínuo para manter a ruína acesa!]

o público presente no III FESTÃO assiste a "Cerotinho", do Coletivo Cê / foto: Bruno Martorelli
o público presente no III FESTÃO assiste a “Cerotinho”, do Coletivo Cê / foto: Bruno Martorelli
ficha técnica
III FESTÃO
Coordenador artístico: Hamilton Sbrana
Coordenadora geral do projeto I Produtora de logística e recepção: Lisa Camargo
Coordenador de articulação regional I Produtor de programação artística: Guto Carvalho 
Produtora Executiva | Diretora de Produção: Andressa Moreira
Formação - Olhar Crítico: amilton de azevedo
Formação - Pedagogia do Teatro: José Simões
Coordenadora de comunicação: Amanda Sobral
Produtora audiovisual: Quitéria produções
Fotógrafo: Bruno Martorelli
Social media: Tiani Zilli
Assessoria de imprensa: Jf Gestão de Conteúdo
Design gráfico: João Rios
Recepção: Pablo França
Coordenador de montagem I Cenotécnica: Alexandre Malhone
Assistência de montagem e cenotécnica: Rodrigo Cortêz Camargo de Lima e Mariana Novaes Alves (Coletivo Narciso)
Sonorização e Iluminação: Paulisom
Assessoria contábil: Amorim Assessoria Contábil
Realização: Governo do Estado de São Paulo, por meio da Secretaria de Cultura e Economia Criativa, e Companhia de Eros
Apoio: Prefeitura Municipal de São Roque, por meio da Divisão de Cultura