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Farofa do Processo #1: com quantas perguntas se faz uma mostra?

perguntas em torno da experiência do Farofa do Processo, mostra realizada entre 02 e 10 de março na Oficina Cultural Oswald de Andrade pela Corpo Rastreado. este texto faz parte do projeto arquipélago.

O que é uma Farofa? O que é uma mostra de teatro? O que é uma mostra de processos de teatro? O que é teatro? O que é teatro, hoje? Há algo no teatro que não seja teatro? Quais as teatralidades do teatro contemporâneo?

O que é um processo? O que o público espera ver de um processo? O que um artista espera de uma abertura do processo?

O que um artista seleciona de seu processo pra mostrar como processo? Em que etapas um trabalho em processo pode ou deve ser visto por um público? Quem é o público de uma mostra de processos?

Abrir o processo é torná-lo poroso à recepção? É assumir sua fragilidade? Sua instabilidade? O que se transforma em um processo que se apresenta em uma mostra de processos?

O que é abrir um processo? É viabilizar sua realização a partir de quem está vendo? Como se moldam os olhares de público, programadores, artistas, a partir desta expectativa? O que é mesmo um processo? Toda obra teatral contemporânea se formaliza em processo?

Por que alguns processos geram mais interesse do que outros? São as pessoas? Os temas? As linguagens? Os contornos? Os currículos? As possibilidades? Que possibilidades?

Quais são os temas recorrentes? Que linguagens têm reverberado? Teatro performativo? Teatro narrativo? Dança-teatro? Quantos teatros existem no teatro?

A performatividade é indesviável? O que significa contar uma história, hoje? Autoralidade e biografia se amalgamaram de forma irreversível? Qual a narrativa da performatividade e qual a performance da narratividade?

Uma mostra é representativa de uma cena? Os corpos e coletividades que participaram do Farofa estão em quais palcos e espaços da cidade? De onde eles vêm? Quais as expectativas lançadas sobre elas, eles, elus?

Acessibilidade pode ser pensada como gesto criativo? Autodescrição é uma forma de produzir sentidos a partir de si? Ouvir uma audiodescrição narrar o que estou vendo para alguém que tem baixa visão altera como vejo o que está diante de mim? O que significa propor uma arte inclusiva? Uma acessibilidade radical?

Que corpos estão na cena e como eles enunciam ou não a si próprios em suas ações? Por que alguns corpos se vêem e outros fingem que não? Se todo corpo, dentro e fora de cena, carrega marcas indeléveis, é possível ignorar essas performatividades? O que é uma personagem? Onde está a personagem? Há personagem? Todo ator é um performer? Personagem de si próprio? 

Onde cabe verdade na fábula? Onde cabe ficção na biografia? Que histórias se contam? Como se contam as histórias? Que histórias podem ser contadas?

Que arte é essa onde se pode tudo? Quem sempre pode tudo? Como historicizar debates ao invés de esvaziá-los?

Como se faz uma curadoria do processo? Uma curadoria sob o olhar da produção, como é isso? Como as parcerias se estabelecem, se acionam, se moldam e moldam os processos? 

Onde está a produção dentro do processo? Onde está o processo na produção? 

Ocupar basicamente um mesmo espaço por um período delimitado de tempo altera as percepções? Há um panorama a ser desenhado? São visíveis as recorrências, reverberações, contaminações, oposições, exposições, posições, dentro deste recorte oferecido?

O que são os encontros? O que muda em mim de acordo com quem vê ao meu lado? Com quem me vê vendo?

O que se espera da crítica teatral em uma mostra de processos? O que se espera da crítica teatral? Se espera algo? Crítica teatral?

“A crítica condescendente é um engano”? Generosidade e rigor podem caminhar juntas? Como analisar obras que talvez ainda nem se coloquem como obra? Como olhar?

O que a crítica teatral espera de uma mostra de processos? O que a crítica teatral espera de um processo? A crítica teatral espera? Há espera?

Crítica é criação? Produção é criação? Crítica é pedagogia? Produção é pedagogia? Uma mesa de bar pode ser crítica? Um boteco pode ser pedagógico? Um boteco crítico pode ser um dispositivo funcional de construção de pensamento? Onde se produz pensamento crítico? Onde se transmite pensamento crítico? Onde dialoga-se criticamente? Há diálogo?

Há uma cena teatral? Há um corpo crítico teatral? Há uma cidade? Um estado? Um país?

Um texto feito apenas de perguntas diz alguma coisa a alguém?

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