teatro

sobre mulheres e borboletas

crítica de “Maria e os Insetos”, da Companhia Delas de Teatro.

Dando sequência à trilogia Mulheres e Ciência após o premiado Mary e os Monstros Marinhos, a Companhia Delas de Teatro conta a história de mais uma mulher — entre tantas — cuja importante contribuição à ciência não é conhecida do grande público. Em Maria e os Insetos, crianças e adultos conhecem a vida e pesquisa de Maria Sibylla Merian (1647–1717), importante naturalista, entomóloga e ilustradora científica.

Da proposta da trilogia resultam espetáculos onde simultaneamente se fortalece a representatividade e a divulgação científica. Na dramaturgia assinada pela também diretora Thais Medeiros ao lado das atrizes Fernanda Castello Branco, Julia Ianina e Paula Weinfeld, o público acompanha tanto Maria quanto os insetos: caminham lado a lado as narrativas familiares e as descobertas da cientista alemã.

Com direção de arte de Mira Haar, Maria e os Insetos aproveita muito bem a relação de Sibylla com a pintura, criando uma bonita plasticidade que propõe novos elementos ao longo da encenação. São verdadeiras pérolas imagéticas — como o vídeo da metamorfose e o flipbook do vôo da borboleta — que também estão presentes na corporeidade das atrizes.

Castello Branco, Ianina e Weinfeld brincam de contar a história, entre narradoras e personagens. No jogo proposto desde o início por Medeiros, as intérpretes vestem roupas neutras que serão sobrepostas por figurinos de época e adereços de acordo com as necessidades da obra.

As três são Maria e seus familiares, mas também podem ser a floresta e seus animais. É um recurso inteligente para capturar o olhar infantil — visto que, para mais novos, é possível que a narrativa se apresente um pouco complexa. Assim, talvez para alguns a estética proposta pela direção de arte e a leveza do jogo cênico interesse mais do que a história sendo contada.

É difícil não considerar a dimensão do desafio assumido pela Companhia Delas, similar à sua importância. Como contar a história de uma ilustradora científica em uma época onde provavelmente muitas crianças (também jovens e adultos) mal sabem da existência e relevância dessa profissão? Ainda, como fazer compreender — e enaltecer — a empreitada de Maria rumo ao Suriname para observar a flora e fauna local quando nos dias atuais tudo está a um clique de distância?

Para realizar o resgate da trajetória de uma mulher que viveu na virada do século XVII para o XVIII, Maria e os Insetos estabelece desde seu início o palco como essa possibilidade de “novo mundo”, assim como eram as Américas para os europeus na época de Sibylla. Assim, as atrizes se divertem ao compartilhar uma história que merece ser lembrada. Ao ressaltar a importância também das pequenezas da natureza, a Companhia Delas acaba também por reinventar uma floresta imaginada na composição final. Onde mulheres e borboletas seguem e seguirão voando, sendo vistas ou não.